- Menu Cultura
- Roteiros Culturais
- Roteiro Queirosiano
- Roteiro no Centro Histórico de Colares
- Roteiro Medieval
- Roteiro do Centro Histórico de Sintra
- Roteiro Romântico
- Roteiro das Fontes de Sintra
- Roteiro da Rainha D. Amélia
- Roteiro Patrimonial de Agualva
- Roteiro Patrimonial de Belas
- Roteiro Patrimonial de Rio de Mouro
- Roteiro Patrimonial de Queluz
Roteiro das Fontes de Sintra
A uma Fonte de Sintra
Por ti, magoada fonte, que suspiras
Nos silêncios de Sintra, evocadores,
E pareces roubar aos trovadores
A saudade que chora em suas liras;
Por ti, fonte das graças, que me inspiras,
Sempre embalado eu fosse! Entre esplendores,
Esqueceria o mal das minhas dores
E o Mundo hostil, semeado de mentiras!
Esqueceria a agrura em que me vejo,
A sombra vã deste horizonte baço,
Onde jamais sorri fugaz lampejo…
E, a um róseo entardecer, (doce momento!)
Minha alma partiria, pelo Espaço,
Feliz, qual sonho que se vai no vento!
(De MÁRIO BEIRÃO; in Novas Estrelas, Portugália Editora, Lisboa, 1940)
1
2
Na Praça D. Fernando II, local da afamada feira de São Pedro e fronteira à quinta de D. Dinis, encontra-se a bonita fonte de São Pedro que presta homenagem ao Padroeiro de Sintra. Foi edificada em 1928 segundo projeto do arquiteto Raúl Lino.
De conceção erudita e planta centralizada, a estrutura possui uma cúpula encimada pelas “chaves do Céu”, remetendo para modelos arquitetónicos renascentistas. A entrada faz-se por uma colunata. No interior encontramos bancos corridos forrados com azulejos de estilo setecentista, a ladear uma torneira envolta num radioso sol relevado que vaza a água para um pequeno tanque circular assente numa robusta coluna.3
Descendo a estrada a caminho da Vila Velha, não podemos deixar de destacar uma das mais emblemáticas fontes de Sintra: a Fonte da Sabuga.
Situada no início do antigo arrabalde, esta famosa fonte foi alvo de diversas alterações ao longo dos séculos. A primeira campanha de obras de que temos conhecimento foi decidida pela rainha D. Luísa de Gusmão que se encantou a água conhecida porque «bebida em jejum cura as diarreias biliosas e precedidas de intemperanças quentes».
A importância da Sabuga é atestada pelo facto de, após o terramoto de 1755, que destruiu cerca de dois terços de Sintra, ter sido rapidamente reconstruída.
A qualidade salutífera da água foi também louvada pela Visconde de Juromenha que na sua Cintra Pinturesca (1836), primeira obra histórica de Sintra escreve «he a mais celebre a que está na estrada que vem de Lisboa e vai para Collares, chamada da Sabuga, pela grande frescura das suas aguas de verão e inverno. Como estas porém algumas vezes tepidas e tão brancas como agua de sabão, o que attribuem a passar por mineral nas entranhas da terra onde nasce».
Arquitetonicamente, o fontanário resultante do pós-terramoto aproxima-se bastante do atual, ainda que, em 1804, estivesse integralmente preenchido por exuberante decoração pictórica. Em 1850 uma nova campanha de obras despojou a fonte dos frescos, realçando, apenas, as molduras de duplo filete em meia cana que percorriam as paredes que envolvem o tanque de pedra.
Nos anos de 1920 a água era vendida a copo e chegou a ser comercializada por uma firma lisbonense.
Ainda não há muito tempo longas filas se faziam para se ir buscar água à Sabuga, eternizando a velha máxima popular que nos diz que quem beber a água desta fonte jamais esquecerá Sintra.4
5
Regressemos à Volta do Duche rumo à Fonte Mourisca. Edificada em 1922, é da autoria do escultor José da Fonseca, mestre de obras da conceituada escola de Coimbra, que acompanhou Luigi Manini na edificação do Palácio da Quinta da Regaleira.
A Fonte Mourisca teve um percurso original e algo conturbado. Tendo sido construída para substituir o antigo chafariz da Câmara, valorizar a entrada da Vila e «dignificar a água mais apreciada de Sintra», na sequência do alargamento da estrada, em 1960, foi decidido desmontá-la. Passados vinte anos foi remontada vinte metros mais adiante, em plena Volta do Duche, no local onde hoje a podemos apreciar.
De aspeto revivalista, característico da segunda década do século XX, revela um certo formalismo académico, patente na grandiosidade e na alusão ao mundo árabe. A fachada apresenta um conjunto pétreo imponente onde sobressaem um arco de ferradura denticulado, rasgado por 3 outros arcos de idêntico formato e, ao centro, a pedra de armas do município. O conjunto ostenta uma enorme intensidade de cor devido ao uso de azulejos neomouriscos de diferentes padrões.
No interior, as paredes alojam mais uma panóplia azulejar do mesmo estilo encimada por uma abóboda de tijolo vermelho gomada. Finalmente no centro, ladeado por bancos corridos de pedra, sobressai o fontanário com bica de bronze a emergir dum florão e a verter água num tanque oval com bordo concheado.6
Já no final da Volta do Duche encontramos, resguardada no local original da fonte mourisca, a Fonte da Câmara. Da autoria do Arq. Vasco Regaleira apresenta um traçado contemporâneo que, no meio do revivalismo predominante, foi por muitos encarado como dissonante do centro histórico.
Simples, despojada de formalismo e decoração, apresenta uma grande taça circular, revestida no interior com mosaicos azuis, que recebe a água de uma bica dupla.
Contrastando com a sua delicadeza singela envolve-a um rude espaldar em U, construído em pedra com vasos salientes em pedra mais clara e macia. Num dos muros corridos está justaposta a pedra de armas de Sintra.7
No cimo da imensa escadaria do Palácio Nacional de Sintra encontramos um imponente chafariz renascentista de conceção erudita. No centro ergue-se um pilar profusamente decorado, encimado por uma miniaturização de um castelo com cinco torres, sendo a central mais elevada. Logo abaixo, sustendo-o, quatro cabeças de golfinho soltam as águas para uma taça gomada, de cujos florões as transvazam para o estanco circular de bordos salientes.
No Jardim da Preta, encontra-se o velho esguicho manuelino, que outrora se erguia no centro da Praça da República para lá do velho muro que limitava o Terreiro da Rainha D. Amélia, em local próximo do mercado, onde se concentravam alguns vendedores. Após a implantação da república, com o intuito de alargar a via pública, foram derrubados alguns edifícios fronteiros ao terreiro do palácio, enquanto o esguicho foi definitivamente transferido para o local onde hoje se encontra.8
Subamos a Rua das Padarias e paremos na Fonte da Pipa situada nas traseiras dos terrenos do Palácio dos Ribafria.
Quando encontramos a histórica fonte, a primeira imagem que temos é a que data do século XVIII, contudo a sua história é bem mais antiga, sendo já mencionada num documento de 1369.
Em 1758, a Fonte da Pipa é referida como tendo uma água excelente que era aproveitada pela maioria dos moradores da vila.
A rainha D. Maria I, tendo conhecimento de que a água estava a ser desviada para o Palácio dos Ribafria pelo seu proprietário, o marquês de Pombal, mandou refazer a fonte para devolver a água à população, como comprova a gravação do espaldar, localizada sob a pedra de armas real.
O frontispício, de grande monumentalidade e qualidade estética, encontra-se dividido por pilastras em pedra lioz que emolduram quatro painéis de azulejos azuis e brancos de cariz classizante. Nestes painéis estão representadas, à esquerda, a Deusa Cíntia ou Diana, com a água e a caça a ela associada, e à direita a Justiça com a balança. Os painéis centrais representam frondosos pinheirais.
O tanque, também em pedra, é regado pela água que sai de uma pequena bica em forma de pipa, dando o nome ao fontanário.9
A Fonte dos Pisões, fronteira ao velho Palácio da Quinta que lhe dá nome foi erigida pela Comissão de Iniciativa de Turismo de Sintra, em 1931, segundo o projeto de José da Fonseca.
Em descrição do século XVIII a fonte é referida como tendo uma maior corrente no Inverno, sendo aproveitada para regar os pomares e para uso dos moradores da vila.
A atual fonte desenvolve-se a partir de uma estrutura semicircular com o espaldar ladeado por bancos corridos, profusamente decorado com motivos geométricos. Salienta-se, ao centro, um grande círculo com painéis de azulejos policromados da cerâmica Constância. Na referida circunferência desenvolve-se o frontal de inspiração renascentista, inscrito num complexo conjunto cerâmico donde sobressai um baixo-relevo no qual vemos putti bebendo água ou carregando bilhas. Ao centro, um outro, de pé, elogia a água de Sintra, segurando uma faixa onde se lê: SALVE. Por abaixo desta composição escultórica, está a bica que liberta água para uma taça retangular gomada donde, por sua vez, escorre para um tanque rasteiro destinado aos animais. Em todo este cenário prevalece um vivo ocre que encontramos noutras fontes de Sintra.
10
Não há quem não se fascine com esta delicada e romântica Cascata dos Pisões, que muitos tendem a confundir com a histórica Fonte dos Amores.
Reza a história que outrora as águas corriam livremente serra abaixo, sendo aproveitadas na Quinta dos Pisões, onde moinhos de água a utilizavam para pisar o linho. Os terrenos em que está construída pertenciam ao Marquês de Pombal e foram adquiridos pelo seu protegido, Daniel de Gildemeester, cônsul da Holanda em Portugal e negociante de diamantes, que ali decidiu erigir a cascata.
Aquele verde, aquele trabalho da pedra imitando escarpadas rochas naturais, aquele musgo nos velhos muros que a ladeiam, e finalmente aquela água escorrendo para o pequeno lago pedregoso, remetem-nos para a frase de Eça de Queirós: «Sintra é isto um pouco de água um bocado de musgo: isto é um paraíso». ´
11
Esta pequena fonte onde a água não jorra, instalada na entrada para o terreiro de Seteais foi projetada por José da Fonseca, num apropriado revivalismo neorromânico, datado de 1915. A sua bica surge-nos entre colunas que suportam arcos de volta perfeita e vaza para um tanque de pedra. Esta arcaria é antecedida por um grande arco que define a arquitetura do frontal erigido em pedra rústica, pois abre-se em toda a amplitude da fachada e permanece sustido por duas colunas similares às anteriores.
12
Na Estrada Nova da Rainha ou Estrada Velha, logo a seguir a Seteais surge-nos a Quinta da Penha Verde, único bem material que D. João de Castro, 4º Vice-Rei da Índia, aceitou ter em vida. Junto a ela encontra-se uma fonte barroca que, enquadrada na floresta, se abre em semi-circulo num colorido amarelo e branco. As suas laterais apresentam pequenos bancos corridos de pedra enquanto, ao centro, se sobreleva a espalda com coruchéu, ostentando a pedra de armas dos Castro, inscrita em cartela.
Na base, o fontanário ostenta um tanque tribolado de pedra para onde escorre a água vertida por duas bicas de jarro.
13
Para os lados de Monserrate está a bonita Fonte da Mata Alva, caractrizada pelo seu revivalismo neomourisco. Foi restaurada em 1875 por Francis Cook, o rico comerciante de arte que trasformou o Parque e o Palácio de Monserrate na preciosidade romântica de Sintra que todos conhecemos e que recebeu em vida o título honorífico de Visconde de Monserrate. Porém, as suas origens devem remontar ao último quartel do século XVIII.
Do referido restauro resultou um frontal antecedido por uma cúpula esférica que cobre a bica e o respectivo tanque de pedra. A abóboda é suportada por colunas com os capiteis profusamente decorados, enquanto o frontal é ladeado por bancos de descanso encimados por pequenos paineis de azulejos policromados, ali colocados em 1988, replicando os originais. Destaque para um fresco geométrico neomourisco, que se impõe sob a cúpula, e para o painel de 96 azulejos que reconstitui um tapete de maçarocas do século XVIII.
14
Já perto da Quinta da Capela de Nossa Senhora da Piedade, num dos muitos cotovelos da Estrada Velha está a pequena Fonte dos Ladrões, assim designada pelos assaltos que ali sucediam aos mercadores que acediam a Colares. Barroca, de cronologia incerta, foi restaurada pelo município em 1988, que devolveu à sua primitiva estrutura a elegância e singeleza que a caracterizavam.
No espaldar, encimado por volutas simples, impõe-se a réplica das armas da rainha D. Maria II e a bica dupla de pedra que entorna as suas águas para um tanque, ladeado por uma escadaria pétrea que nos conduz ao seu bordo.
15
No coração da vila de Colares encontramos a velha Fonte de Melides com o seu grande tanque pétreo. Encostada a um alto muro branco, que recorda os limites da antiga mouraria, a fonte conta-nos a lenda dos vinte amedrontados cavaleiros enviados para conquistar o Castelo dos Mouros, que nestas paragens foram amparados por uma aparição de Nossa Senhora que encorajando a sua missão, lhes disse «ides vinte…que mil ides»: sob a sua proteção valiam por mil.
E agora fica o convite para finalizarmos este passeio não junto a uma fonte, mas sim apreciando as águas do Rio das Maçãs na Várzea de Colares recordando velhos tempos em que nelas se barquejava, para depois regressarmos aos nossos destinos purificados pelas águas de Sintra.
Adeus, águas, sombra,·e ar,
Da minha Sintra querida!
Flores, luz, saúde, e vida,
Eu vim aqui procurar.
Em teus frescos arvoredos,
Nas águas das tuas fontes,
No acre cheiro dos teus montes,
No musgo dos teus penedos,
Buscava meu coração
Força, esperança, conforto;
E tua bela solidão
Lhe deu a resurreição,
Quando ele era quase morto!
(De FRANCISCO GOMES DE AMORIM, Sintra, estrofe II)