VIDA E OBRA DE LUISA DUCLA SOARES - 50 ANOS DE VIDA LITERÁRIA
Com sonhos e livros se constrói a vida
07 de junho a 03 de julho de 2022 | MU.SA- Museu das Artes de Sintra | Sala da Claraboia - Piso 3
Luísa Ducla Soares escreveu mais de 180 livros para crianças, ilustrados por dezenas de autores ao longo destes 50 anos. A obra está dispersa por várias editoras e é possível encontrar sempre alguma das suas obras nas livrarias.
Escreveu contos, poesia, lengalengas, trava-línguas, recontou histórias de tradição oral e não deve haver muitos temas sobre os quais não tenha ainda escrito.
Esta mostra tem a finalidade de dar a conhecer a vida e obra de Luísa Ducla Soares e comemorar os 50 anos da sua vida literária. É constituída por livros, fotografias, documentos, quadros e trabalhos realizados por alunos em homenagem a Luísa Ducla Soares.
Sobre a escritora
«Contrato
é acto contra acto
é compromisso
é dádiva não dada
nem vendida
é isso
que se troca em cada gesto
da mesma dimensão.
Que o resto é coração com asas de mitologia.
Contrato
é
mão contra mão
na manhã fria
inventar o calor de duas mãos.»
Elucida-nos, mais tarde, a escritora que se tratou de um contrato «de amor e solidariedade para com os outros, principalmente para com os esquecidos, os oprimidos…».
Em 1971, fundou e dirigiu o jornal Vida, que, durante dois anos, contribuiu para a formação de uma opinião pública mais esclarecida. Rodeou-se de colaboradores de vulto, entre outros, José Rodrigues Miguéis, Marcelo Rebelo de Sousa, Urbano Tavares Rodrigues e Augusto Abelaira. A crítica ao regime é visível designadamente em textos ou entrevistas a, entre outros, Joel Serrão, Mário Sottomayor Cardia, Miller Guerra e Sá-Carneiro. O atraso do país no domínio da saúde e do ensino, a ausência de liberdade de imprensa e de associação, o cooperativismo e os problemas dramáticos da emigração foram postos em evidência.
Dois anos mais tarde, tendo em consideração a obra infantil História da Papoila, a Secretaria de Estado de Informação e Turismo atribuiu-lhe o prémio “Maria Amália Vaz de Carvalho”, galardão que, corajosamente, recusou, em carta dirigida àquele organismo, nos seguintes termos:
«Refletindo sobre a atribuição do prémio de literatura infantil da Secretaria de Estado de Informação e Turismo, parece-me que só por uma abdicação de valores morais, individuais e profissionais, eu poderia aceitar esse prémio, instituído pelo próprio organismo de que depende a Censura, fator indiscutível de depauperamento da cultura nacional.»
O Vinte Cinco de Abril permitiu-lhe concretizar outros ideais de carácter educativo e cultural. Esteve então ligada ao Ministério da Educação e, mais tarde, passou a integrar o quadro da Biblioteca Nacional de Portugal, instituição que serviu durante cerca de três décadas.
A aposentação, para Luísa Ducla Soares, não significou menor atividade no âmbito da divulgação da cultura; pelo contrário, intensificaram-se a criatividade bem como o contacto com a população infantojuvenil, designadamente, nas múltiplas visitas que tem feito às escolas, disseminando a magia da palavra e, sem moralismos, apelando à adoção de valores consentâneos com a natureza humana.
Embora Luísa Ducla Soares seja conhecida sobretudo como escritora de literatura infantil, a sua obra está longe de se lhe circunscrever. Com efeito, nos cerca de 180 livros que a constituem e, eventualmente, em outros tantos textos publicados em revistas e jornais, a autora cultivou géneros literários tão diversificados como a poesia, a crónica, o drama, a tradução (de Pablo Neruda, Saul Bellow e Roald Dahl, entre outros escritores consagrados), o memorialismo e o conto. Adicionemos-lhe ainda a edição literária, a elaboração minuciosa de biografias (Garcia de Orta, Teixeira de Pascoaes, Fernão de Magalhães, Ferreira de Castro, Eça de Queirós e José Rodrigues Miguéis), a colaboração em antologias e livros didáticos, a redação de ensaios sobre autores de renome como António Sérgio, Antero de Quental, Guerra Junqueiro e António Gedeão, e, na esteira de mestres ilustres como José Leite de Vasconcelos, Luís Filipe Lindley Cintra, Carolina Michaëlis de Vasconcelos e Michel Giacometti, a recolha de lendas, adivinhas, trava-línguas e lengalengas, que têm feito a delícia de várias gerações e contribuído para a sua formação multifacetada.
A obra e o magistério cívico de Luísa Ducla Soares têm sido amplamente reconhecidos pelos leitores jovens, pela comunidade intelectual e a população em geral. Atesta-o a presente exposição, da qual constam inúmeros objetos da autoria de crianças e adolescentes.
Não surpreende, portanto, que esteja traduzida em chinês, francês, italiano, neerlandês, alemão, catalão, basco, galego e inglês e que várias escolas e bibliotecas nacionais ostentem o seu nome.
Convidamo-lo, pois, a partilhar a mundividência peculiar de Luísa Ducla Soares, patente nesta exposição comemorativa dos cinquenta anos de vida literária.
Daniel Pires