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Roteiro da Rainha D. Amélia
Chegou a Portugal em 1886 e três anos mais tarde tornou-se a sua última rainha. Rainha num cenário de terrível instabilidade que custaria a vida do seu marido e do seu amado primogénito D. Luís Filipe em 1908.
Morreu em 1951 no Castelo de Bellevue em Le Chesnay, perto de Versailles:
«Morro em França mas é em Portugal que quero descansar»
D. Amélia foi uma das muitas figuras da nossa história que soube encontrar, em Sintra, momentos de paz, de felicidade e de descanso. Calcorreou estas amadas terras incontáveis vezes, só ou acompanhada, com gente simples ou aristocrata, portuguesa ou europeia. Acompanhemo-la nós também!Como escreveu Eça de Queirós na sua obra A Rainha, para a revista Moderna em Paris: «A Rainha ama a nossa terra como se dela houvesse brotado…E nem o patriotismo mais ciumento poderia reclamar que uma senhora de terra alheia, desde que entregou a mão, numa igreja, diante de um bispo, a um príncipe nosso, logo entregasse o coração todo, sentidamente, ao povo e à terra de que um contrato a ergueu rainha. Mas, realmente a Rainha, desde que a lei a tornou portuguesa, logo se desejou portuguesa.»
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Se houve lugar onde a rainha D. Amélia viveu momentos inesquecíveis de paz foi na sua amada Sintra, e nela, particularmente, no Palácio da Pena, onde passava grande parte dos seus Verões.
Neste palácio, resultante do sonho romântico do rei consorte D. Fernando II cuja beleza estética e o ecletismo nos envolvem, o espírito sensível e artístico de Amélia de Orleans e Bragança não poderia ficar indiferente. No próprio palácio se poderia fazer um roteiro ameliano começando pela sala de jantar do rei D. Carlos que alberga um centro de mesa de prata, em forma de nau, com as armas de Paris, prenda de casamento recebida pela rainha das senhoras de Paris.
No primeiro piso é de referir o quarto da rainha, com paredes e tetos decorados por extraordinário trabalho de estuque feito pelos irmãos Meira de Afife. Os dois fechos de abóbodas representam, respectivamente, as armas dos reis D. Maria II e Consorte e as de D. Carlos e D. Amélia. A cama de bilros e pau- santo, do século XVIII, apresenta dossel e cobertura. Destaca-se ainda o pormenor da folha seca dentro da jarra da mesa-de-cabeceira, que a rainha deixou ficar para se lembrar da sua paixão por aquele palácio e por Sintra.
Resta-nos imaginar os seus passeios de bicicleta na Pena, os jogos de ténis no picadeiro e o passear pelo frondoso parque apreciando as cameleiras.
Os dias 3 e 4 de outubro de 1910, dias que antecederam a implantação da república, foram vividos na Pena, ali passou a última noite, antes de partir para o exílio.
Em1945, após a segunda Guerra Mundial, D. Amélia regressou ao palácio da Pena para recordar, em silêncio e só, os momentos felizes que ali viveu.
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Saindo do Parque da Pena, estamos prontos a descer a calçada empedrada que nos conduz a São Pedro de Sintra. Porém, uma reentrância à nossa direita, convida-nos a descobrir um dos patamares da serra que nos proporciona a mais deslumbrante vista sobra a planície.
Estamos junto à ermida de Santa Eufémia, construída no século XVII por um cavaleiro francês num local onde a religiosidade remonta à antiguidade.
A ermida possui, no exterior, um pequeno tanque de pedra com espaldar onde se encontra um painel de azulejos setecentistas com uma longa inscrição a remeter-nos para a lenda de Santa Eufémia.
Amélia era uma assídua frequentadora e benfeitora das festas de Santa Eufémia, que se realizavam a 16 de setembro e que atraiam milhares de romeiros. Nelas se misturava com povo, em mais uma demonstração da sua profunda ligação a Sintra.
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O Paço de Cintra é uma preciosa obra, escrita em 1903 pelo Conde de Sabugosa e magnificamente ilustrada pelo talento da rainha D. Amélia, com desenhos que entram no pormenor do olhar perspicaz da autora. Se outra razão não houvesse, esta bastaria, para tornar uma visita ao palácio da Vila obrigatória no nosso percurso pelos caminhos da monarca em Sintra.
Paço das rainhas desde Santa Isabel, por doação de D. Dinis o edifício era a antiga alcáçova dos Walis (chefes mouros), preciosamente conservado por ordem real.
Tal como o conhecemos, o palácio resulta de duas grandes campanhas de ampliação: uma primeira joanina e de uma segunda manuelina. Funcionou, sobretudo ao longo da dinastia de Avis, como uma casa de família, em que se procuravam fazer adaptações e seguir novos gostos e ideias. E como casa de família foi berço de D. Afonso V, que também ali viria a falecer, foi ali que D. João definitivamente se abalançou para a conquista de Ceuta e D. Sebastião deu a sua última audiência antes de Alcácer Quibir. Podemos “ver” D. Duarte escrevendo; o Príncipe Perfeito a ser aclamado rei no jogo da pela ou o infeliz João VI ali preso pelo irmão.
Toda a história e beleza deste palácio jamais poderiam deixar de marcar o espírito sagaz de Amélia. É impressionante o preciosismo com que nos retrata a sala dos brasões, o pormenor dos azulejos mudejares sevilhanos, as portas e janelas manuelinas, a sala das duas irmãs, as chaminés, o pormenorizado desenho do cisne replicado vinte sete vezes na sala dos cisnes, para além das vistas panorâmicas, cujas fotografias, hoje tiradas, parecem não ultrapassar o realismo do traço talentoso da rainha.
Muitas recepções oficiais foram realizadas pelos monarcas neste palácio, algumas das quais eternizadas em fotos da época, como a do Kaiser Guilherme II da Alemanha. Amélia entendeu sempre que no Paço de Sintra conseguia fazer compreender aos seus convidados o percurso dos portugueses pelo mundo.
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Do terreiro do paço real, ou terreiro da rainha D. Amélia, passando pela praça da República dirigimo-nos à Quinta dos Pisões, onde inicia a Estrada Velha, assim designada porque é a mais antiga que liga Sintra a Colares. O seu verdadeiro nome, porém, era Estrada Nova da Rainha, a rainha a que se refere é obviamente D. Amélia.
O velho caminho onde até os burros circulavam com dificuldade, fora alvo de imensos protestos dos colarenses que ambicionavam uma estrada digna desse nome. Conseguiram-na nos finais do século XIX.
Passear pela Estrada Velha é obrigatório para quem quer mergulhar no verde romântico de Sintra e conhecer um dos percursos favoritos da monraca. Sucedem-se as grandes quintas: Pisões, Relógio, Regaleira, Vila Roma, Seteais, Penha Verde, Monserrate, entre outras e continuando até Colares passando pelas propriedades dos Duques do Cadaval, a pitoresca Eugaria e o Vinagre.
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Passados os Pisões (quinta, fonte e cascata) deparamo-nos, à direita, com a bela quinta do Relógio, infelizmente, hoje num estado de degradação que implora a sua urgente recuperação.
O palacete romântico em estilo neomourisco, mandado edificar em 1860 por Manuel Pinto da Fonseca, um aventureiro que fizera fortuna como negreiro, ostenta na fachada principal diversos arcos em ferradura, arabescos pintados e uma inscrição em árabe com a divisa dos reis de Granada: Alá é o único vencedor.
O lindíssimo lago com uma pequena ilha arborizada, no centro, a solicitar a presença de cisnes, é um dos encantos do jardim. Deste, a água escoava para outos lagos mais pequenos, fazendo-se outrora ouvir num melodioso sussurro.
Este foi o cenário idílico da lua-de-mel do rei D. Carlos e da sua «jeune fille» D. Amélia. Diante do palacete encontra-se destacada a velha Sobreira dos Fetos, que remonta ao século XVII, e pela qual a rainha se dizia apaixonada, por ela e por Sintra.
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O Palácio de Seteais, edifício de arquitetura neoclássica que D. Diogo José Vito de Menezes de Noronha Coutinho, 5º Marquês de Marialva, mandou construir em finais de setecentos, sobre uma primeira edificação de Daniel de Gildemeester, era local de encontro para eventos sociais e até desportivos. Dividido em dois corpos separados pelo imponente arco de triunfo, datado de 1802, feito em homenagem aos então príncipes regentes D. João VI e D. Carlota Joaquina, tinha atravessado, no auge do romantismo, um período verdadeiramente deprimente, marcado pelo abandono.
Ficou famoso o “grandioso encontro de futebol” disputado perante Suas Altezas Reais acompanhadas do príncipe D. Manuel e vários dignitários da corte, que decorreu em 26 de agosto de 1902 naqueles relvados, entre rapazes de Sintra, reforçados com alguns ingleses e o “poderoso” recém-criado Sport Clube de Belas.
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Deixando Seteais continuamos a percorrer a lindíssima Estrada Velha, passando por belas quintas, pelo palácio de Monserrate, pela capela de N. S.ra da Piedade e restantes propriedades dos Duques do Cadaval até chegarmos a Colares. Do nosso lado direito, a Quinta do Vinagre atravessada pelo rio das Maçãs e coroada pelo imponente solar.
Propriedade da última morgada do Vinagre, D. Maria José Dick Bandeira Nobre, a quinta acolhia frequentemente o casal real. D. Carlos, caçava na serrinha (a parte alta da Quinta, também por ele retratada em pintura), enquanto D. Amélia não resistia a perguntar nos finais de tarde de Verão, depois de mergulhar nas suas pinturas no açude da Quinta: Morgadinha, dás- me de merenda?
Maria do Carmo Peixoto poetisa, jornalista, contadora de histórias e sobrinha da proprietária do Vinagre descreve, num texto publicado em 1932, por ocasião da morte de D. Manuel a familiaridade e frequência com que os membros da família real apareciam na quinta:
Foi na linda Quinta do Vinagre, ás abas da Serra de Sintra, nesse lugar encantador onde os arvoredos rumorejam ao desafio com as limpidas aguas; onde a terra é rica de seivas e o ar de balsamicas, sãs rescendencias. Foi aí que eu tive a honra de ser apresentada ao Infante D. Manuel menino ainda.
Foi Sua Majestade a Senhora D. Amélia, que bastas vezes honrou minha Tia, há pouco falecida e dona do Solar, a srª D. Maria José Avila Bandeira Nobre; com suas visitas, quem ali levou seu Filho num dia de aprazimento, (…) Desde esse dia o Sr. D. Manuel visitava com frequencia a Quinta do Vinagre, quantas vezes acompanhado apenas pelo professor alemão, outras com a Rainha e dignitarios da Corte. E era sempre acolhido com alvoroço por todos
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A bela Praia da Adraga era, devido à sua beleza, uma das favoritas da rainha Amélia que com frequência ali ia fazer piqueniques, apanhar sol e certamente apreciar o cheiro da maresia. Esses piqueniques tinham, por vezes, companhias ilustres como sucedeu em 1905 quando foi acompanhada pela rainha Alexandra de Inglaterra, mulher de Eduardo VII.
Foi a monarca que mandou construir a estrada que une a praia à vila de Almoçageme, tornando mais fácil um caminho bem espinhoso.