A floresta que cobre quase integralmente a serra de Sintra é um dos elementos mais marcantes deste território e um exemplo da profunda transformação a que foi sujeita. Uma paisagem natural, montanhosa e despojada de grande vegetação, deu lugar a uma outra criada a partir de claros e assumidos princípios estéticos, nalguns casos científicos e inegavelmente ideológicos – em suma, culturais. Encomendadas e plantadas as espécies oriundas de várias partes do globo, a nova floresta, à medida que crescia, contribuiu não apenas para acentuar as características geofísicas que explicam o microclima deste território como originou, em termos visuais, uma nova paisagem mais próxima da categoria artística praticada no desenho e triunfante na pintura que da própria natureza – um grandioso capriccio onde não faltam sequer velhas e novas ruínas. Densa, variada e imponente, a pequena grande floresta de Sintra, cobrindo montes, vales e abismos, tornou-se assim um extenso cenário operático que, na sua combinação de diferentes artes – da arquitetura à ópera, passando pela pintura e pela fotografia, pela escultura e pela cerâmica, pelo desenho ou pelo paisagismo – constitui uma das declinações mais originais do conceito wagneriano de obra de arte total. Mas também um deliberado ensaio sobre o variado mundo em que vivemos e um desafio ao imprevisível comportamento dos nossos sentidos face à embriaguez.

The forest which covers almost all the Sintra Mountains is one of this territory’s most striking elements and an example of the profound transformation to which it was subjected. A natural landscape, mountainous and scarcely wooded, gave way to a landscape created from clear and assumed aesthetic principles, in some cases scientific and undeniably ideological – in short, cultural. The new forest grew with species from various parts of the globe which were planted here, contributing not only to accentuate the geophysical characteristics that explain this territory’s microclimate but also to give rise, visually, to a new landscape, closer to the artistic category seen in drawings and triumphant in paintings than to nature itself – a great capriccio, complete with old and new ruins. Dense, varied and imposing, the small, yet large forest of Sintra, covering hills, valleys and abysses, has thus become an extensive operatic scenario which, in its combination of different arts – from architecture to opera, painting and photography, sculpture and ceramics, drawing or landscaping – is one of the most original declines of the Wagnerian concept of the total work of art. But it is also a deliberate essay on the varied world in which we live in and a challenge to our senses’ unpredictable behaviour in the face of intoxication.