Ascender e observar. Elevarmo-nos a um território situado acima da terra e mais próximo do céu. Ver o mundo de cima – na dupla significação de contemplar panoramicamente o mundo terreno e de melhor admirar o mundo superior. Afastamo-nos da terra para estar mais próximo do céu, para vê-lo melhor e melhor comunicar com ele. Porém, o mais oculto dos segredos de Sintra, só inteiramente revelado quando nos abraçamos à terra, é a sua superfície pedregosa, repleta de pequenas e grandes rochas – ou penedos. D. Fernando II não se limitou a construir um palácio acastelado (de fantasia) a partir de um convento arruinado (de clausura) e a reconstruir um castelo (mourisco) desmoronado; foi muito mais longe: transfigurou a pele da montanha, cobrindo-a de espécies vegetais trazidas de todas as partes do mundo. Plantou uma floresta densa, variada e cosmopolita que amenizou a sua natureza acidentada, ocultando os rochedos e atenuando as escarpas. Por isso, a montanha que conhecemos hoje é totalmente diferente daquela que foi vista e vivida pelos nossos antepassados. Uma montanha refúgio – pelos bosques que passaram a cobri-la – e uma montanha farol – pelos monumentos que foram erguidos ou construídos nos seus cumes e que, nesta era da eletricidade, a tornam visível a muitos quilómetros de distância; convidativa e habitável e já não áspera, lúgubre e inóspita. Contemporânea da invenção da fotografia a grandiosa obra romântica será, passo a passo, registada pelo moderno meio.

To ascend and to observe. To rise to a territory above the earth and closer to the sky. To see the world from above - in the double meaning of panoramically contemplating the earthly world and better admiring the superior world. We move away from the earth to be closer to heaven, to see it better and better communicate with it. However, the most hidden of Sintra’s secrets, only fully revealed when we embrace the land, is its stony surface, full of small pebbles and large rocks – or boulders. King Fernando II did not simply have a castellated (fantasy) palace built from a ruined (cloistered) convent and a fallen (Moorish) castle rebuilt; he went much further: he transfigured the skin of the mountain, covering it with plant species from all over the world. He planted a dense, varied and cosmopolitan forest that tempered its rugged nature, concealing the cliffs and softening the scarps. Therefore, the mountain we know today is totally different from the one seen and lived by our ancestors. A refuge mountain – by the woods which started to cover it – and a lighthouse mountain – by the monuments which were erected or built on its summits and which, in this age of electricity, make it visible from many kilometres away; inviting and liveable and no longer rough, dismal and inhospitable. Contemporary with the invention of photography, the grandiose romantic work will be, step by step, recorded by this modern medium.