A Coleção de Vitrais de D. Fernando II no Palácio da Pena

vitraisA vocação coleccionista de D. Fernando estende-se a todo o tipo de artefactos e é bem o reflexo da mentalidade da sua época. Ao longo de toda a sua vida, o monarca reuniu um imenso espólio de objectos artísticos verdadeiramente notável seguindo, aliás, uma tradição familiar que encontra paralelo com aqueles reunidos por seus primos Ernesto II (Duque-Reinante de Saxe-Coburgo-Gotha), Alberto (Príncipe-Consorte da Grã-Bretanha) e, também, por Alfredo (Duque de Edimburgo e Príncipe-Herdeiro de Saxe-Coburgo-Gotha), filho deste último.

A colecção de vitrais de D. Fernando II é um acervo de enorme importância no âmbito do património artístico português, sobretudo, se se tiver em conta o facto de, em Portugal, não terem sobrevivido muitas evidências do cultivo dessa arte ou, até, provas da sua efectiva existência em largo número.

A supracitada colecção inclui exemplares de todas as centúrias, entre os séculos XIV e XIX, tendo a maioria dos elementos constituintes sido provenientes da Alemanha e da Suíça. No século XIX, os homens do romantismo – com o manifesto fascínio que demonstram pela medievalidade – recuperam, não só, a produção vitralística de feição gótica mas promovem, também, a preservação (por via da vocação coleccionista) de um importante manancial desses artefactos, pertencentes às mais diversas épocas.

A colecção de vitrais do Palácio da Pena reflecte ambas as realidades e é composta por três núcleos distintos que designaremos por:
• Núcleo da Capela
• Núcleo do Salão Nobre
• Núcleo das Reservas

Desses, só os vitrais do Núcleo da Capela e do Núcleo do Salão Nobre se encontram, actualmente, aplicados em janelas do Palácio Nacional da Pena.

O Núcleo da Capela é constituído por dois conjuntos; os da Janela do Coro e os da Janela da Nave. Estes últimos estão assinados e datados e, por tal facto, sabemos que foram feitos na oficina Kellner,e e Nuremberga, no ano de 1840, pelo mestre vitralista Johann Adam.

Este conjunto de vitrais exibe um trabalho de pintura de notabilíssima qualidade plástica e reflecte, por um lado, o virtuosismo posto na execução dos cartões e, por outro, a elevada mestria do vitralista.

O Núcleo do Salão Nobre é composto por três conjuntos, correspondentes a outras tantas janelas, abertas na fachada noroeste do corpo central do edifício. Neles se representam temas muito diversos: heráldica (em todas as janelas, e, em alguns casos, também nas bandeiras que as sobrepujam); cenas da vida de Cristo (natividade, baptismo de Cristo e ressurreição); cenas do quotidiano do século XVIII; vitrais com representações de aves e flores; cenas de episódios históricos.

Quanto ao Núcleo das reservas deveremos dizer que é aquele que contém uma maior quantidade de vitrais medievos. Estes, foram transferidos para o Palácio da Pena – em meados do século XX – oriundos do Paço das Necessidades; a residência permanente de D. Fernando II, em Lisboa, e encontram-se agora em exibição permanente na chamada “Sala dos Veados”.

Desse núcleo faz parte aquele que é, seguramente, o mais antigo elemento de toda a colecção e, igualmente, o mais antigo artefacto da arte do vitral conhecido em Portugal, que pode ser datado do início do século XIV.

Todo o espólio vitralístico, recolhido no Palácio Nacional da Pena, foi alvo de uma intervenção de restauro integral, podendo ser ali admirado.

Nota biográfica: Nuno Miguel Gaspar nasceu em Lisboa em 1968. Em 1993, ingressou no curso profissional de pintura decorativa, do Instituto de Artes e Ofícios da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva. Entre 1996 e 2001 dedicou-se ao restauro e conservação de pintura mural. É Mestre em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Assistente de Atendimento ao Visitante, na Parque de Sintra – Monte da Lua S.A.

:::

Texto escrito de acordo com a antiga grafia.

###BLANK###