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Perguntas Frequentes sobre o Regulamento Geral de Proteção de Dados da Câmara Municipal de Sintra
Faleceu no passado dia 18 de janeiro a escritora, artista plástica e jornalista Maria Almira Medina, fato que levou a que a Câmara Municipal de Sintra, na sua reunião de 26 de janeiro aprovasse por unanimidade um voto de pesar, sublindo com um minuto de silêncio.
O presidente da Câmara, Basílio Horta, enfatizou o contributo de Maria Almira Medina, após uma vida dedicada à escrita, às artes e ao jornalismo: “Foi uma personalidade incontornável da vida cultural e cívica não só de Sintra, mas também a nível nacional quer por obras como Madrugada ou A Menina Girassol, quer pelo traço singular com que registou inúmeras personalidades”.
Basílio Horta propôs a criação de um prémio em nome de Maria Almira Medina, diretora do Jornal de Sintra nos anos 80, com o objetivo de “se perpetuar junto das novas gerações o exemplo e denodado profissionalismo de uma referência inspiradora da imprensa regional de Sintra”, referiu.
Maria Almira Medina foi uma figura incontornável dos últimos setenta anos, no âmbito da intervenção cultural e artística. Começou a colaborar com o pai, António Medina Júnior no Jornal de Sintra, ainda jovem, em 1934, depois de concluir o Curso Superior de Letras. Professora e jornalista, depois do falecimento deste dirigiu o Jornal de Sintra, durante os anos 80. Foi uma das intervenientes no primeiro Baile das Camélias organizado pela Sociedade União Sintrense, “cantando canções em americano” como se lhe referiu a imprensa da época.
Ganhou vários prémios na área da pintura, caricatura (Prémio Nacional de Caricatura em 1954) e poesia. As suas obras mais conhecidas são Madrugada e A Menina Girassol.
Nesta ocasião, recolhemos alguns depoimentos de pessoas que com ela conviveram:
João de Mello Alvim, amigo
Agora que fisicamente a Maria Almira não está entre nós, a questão que se coloca é: que fazer com o riquíssimo espólio material (já que o imaterial ninguém nos tira) que o percurso desta mulher gerou. Não só em forma de livros, telas, esculturas, gravuras, caricaturas – mas também o preparatório, tantas vezes fundamental, para perceber a gestação das obras, como são os esboços, rascunhos, etc – como o epistolar, fruto do seu conhecimento, e reconhecimento, por grandes figuras da cultura portuguesa, as fotografias, mas também a biblioteca onde se alinhavam títulos com dedicatórias únicas. Porque o nome e a obra da Maria Almira projectava-se para além de Sintra.
Não me vou pronunciar sobre a via-sacra que a Maria Almira percorreu para tentar salvaguardar o tesouro que tinha, doando-o à comunidade sintrense através da Câmara Municipal. Provavelmente faltam-me os dados todos, mas a partir dos que tenho, inevitavelmente iria falar de “um filme” infelizmente mais do que visto.
Interessa-me o passado como reflexão sobre o presente e perspectiva(s) sobre o futuro. Desse passado não me interessam nada as palavras (ocas) de circunstância que foram, e ainda serão, escritas sobre o desaparecimento físico da Maria Almira. Interessa-me, e gostaria que outros – nomeadamente da chamada sociedade civil - se interessassem pela preservação do espólio, único, de uma mulher que tanto deu a esta sua terra adoptiva, e que seria um crime de lesa cultura não fazer tudo por tudo para preservar. Interessa-me que (mais) esta saga da vida cultural sintrense tenha, finalmente, um digno epílogo.
Emília Reis, amiga
A minha amizade com a Dra. Maria Almira Medina estreitou-se, sobretudo, a partir da sua exposição, “50 Anos de Vida Artística” no Museu Regional de Sintra, em Novembro de 1995, que me deixou fascinada. Acompanhei-a depois, mais de perto, em diversas ocasiões: na preparação do seu livro “Sem Moldura”, logo publicado em 1996, também aquando de outras exposições que realizou mas, com maior assiduidade, na arrumação dos seus muitos papéis, sempre na tentativa difícil e sem fim, de neles colocar alguma ordem, porque a Maria Almira não deitava nada fora. Entre os muitos passaram-me pela mão, cartas de Sebastião da Gama, entretanto publicadas, de Luis Veiga Leitão ou de Ferreira de Castro, estas últimas dirigidas a seu pai.
Muitíssimo generosa, atenta, era dotada de um poder criativo e sensibilidade invulgares e essa marca deixou-a na ‘obra’ diversificada que todos conhecemos. Não conseguiu, contudo, ver publicadas pela Câmara Municipal de Sintra as 22 crónicas que escreveu para o jornal ‘A Pena’ em 98/99, acerca da sua vivência em Sintra e sob o tema ‘A memória é uma rosa aberta’. “Os Cantos da Casa” seria o título do livro e era com alguma amargura que se referia sempre a esse facto.
Mas, o que mais me sensibilizou, porque o presenciei em vários momentos, foi o carinho e admiração com que aqueles que foram seus alunos se referiam â sua professora. Provam-no as muitas cartas e cartões que lhe dirigiram e que se encontram entre o seu arquivo. Não deixa de ser, por isso, bonito, que tenha sido um desses seus alunos, o Jorge Cardoso, a acompanhá-la nos últimos anos da sua longa vida, até ao último momento em que, num tempo em que os ‘pitósporos’ que cantou, estão já por aí a ‘exalar primaveras’, serenamente, qual ‘menina’, a Maria Almira ‘adormeceu’ e nos deixou.
Idalina Grácio de Andrade - Directora do Jornal de Sintra
Falar de Maria Almira Medina é falar do Jornal de Sintra
Com ela convivi desde 1983.
Decorria o mês de Novembro de 1983 quando recebi uma carta de Maria Almira Medina pedindo-me uma reunião.
Conheci-a então, e surpresa minha queria dar-me conhecimento do seu entusiasmo em concretizar a minha proposta de criação do “I Encontro dos Poetas Populares do Concelho de Sintra”, ideia essa que eu tinha enviado ao Jornal de Sintra há alguns anos atrás e que ela ao “escarafunchar” toda a papelada existente a descobriu e lhe quis dar uma resposta embora tardia.
Desde aí iniciou-se e desenvolveu-se um intenso trabalho de equipa a que se agregou outros sintrenses. Recolheu-se e publicou-se poesia popular nas páginas do Jornal de Sintra. Um trabalho intenso e demorado mas que valeu a pena.
Em Julho de 1995 realizou-se o sonhado encontro no então Cinema Carlos Manuel, perante uma casa à pinha e cuja apresentação durou até às quatro da madrugada.
Foi um êxito pleno, com recriação de cegadas, declamação de poemas de poetas de Sintra, coros alentejanos, entre outros, e com a presença musical de António Vitorino de Almeida.
Desde então continuei a colaborar no Jornal de Sintra, sempre em estreita ligação com Maria Almira, a quem eu muito devo pelo que com ela aprendi.
Calcorreamos juntas o concelho, partilhamos muitos sonhos… Maria Almira muito me marcou. “Escancarava” a porta a todos os sintrenses.
Foi no decurso da sua direcção e por iniciativa do Jornal de Sintra que se realizou o I Encontro Feminino de Futsal.
Outra iniciativa relevante foi a criação do Espaço Juvenil, aberto a todos os jovens, muitos dos quais aí recolheram a sua primeira experiência Jornalísticas. Este suplemento prolongou-se até 1990,em paralelo com a página cultural, esta já existente na direcção de António Medina Júnior.
Foi um período em que Maria Almira Medina muito deu de si e do seu bolso.
A todos recebia com amizade, desde o mais “andrajoso” ao mais culto.
Nunca esqueceu a sua família, amigos e sociedades recreativas e culturais, da sua terra natal, Tavarede. Com eles distribuía afectos e alegrias.
Dos colaboradores que com ela estavam, destaco José Alfredo Azevedo, Anjos Teixeira, grandes vultos sintrenses, assim como Vítor Cravo, homem de grande dimensão social e um amigo de família de longa data.
Para além da sua vertente jornalística Maria Almira Medina foi uma mulher sempre à frente do seu tempo.
Mulher de grande energia sob impor-se e criar relevância no mundo que a circunscrevia.
Como caricaturista impôs-se num mundo até então dominado por homens. Consta das enciclopédias como escritora, ceramista, pintora. A trapologia deu-lhe projecção numa área de difícil execução.
Sintra reconheceu em vida a sua obra – foi-lhe atribuída a Medalha Municipal – Grau Ouro e nome de Rua, na Portela de Sintra.
A sua última entrevista ao Jornal de Sintra realizou-se por ocasião do 80.º aniversário do Jornal. Esteve presente em 7 de Janeiro de 2014, no Restaurante Apeadeiro em dia de aniversário.
O seu último contacto pessoal com o Jornal de Sintra teve lugar, no dia 5 de Outubro de 2014, aquando do lançamento do Livro “Por Malaca e Timor Leste”, encontro integrado da defesa da Lusofonia, causa que ela também abraçou.
Na minha actual função de Directora do Jornal de Sintra tenho sempre presente os seus ensinamentos e o editorial jornalístico que me transmitiu.
Nasceu a 29 de Agosto de 1920 e faleceu em 18 de Janeiro de 2016.
Era filha de Emília Pedrosa Medina e António Medina Júnior, irmã de António Pedrosa Medina, mãe de António João Medina Mouzinho, tia de Fernanda Medina Capote.
Connosco viverá sempre.
Carla Dias
“Descobri” a Maria Almira em Sintra há cerca de 7 anos. Digo descobri, porque até aí apenas lhe sabia o nome, que surgia aqui e ali, em poemas ditos por colegas do teatro.
Logo ao primeiro contacto ofereceu-me a sua vida com as duas mãos abertas e inteiras: contava-me da casa, dos anseios, da Vida (enorme!) que tinha dentro. Lembro-me que nesse dia, depois das primeiras horas de conversa, fui para um café ao lado da casa dela, escrever tudo o que tinha aprendido.
Era fascinante! Apetecia “bebê-la” por inteiro, em cada palavra, em cada gesto. Parecia que abraçava o mundo numa só conversa. Tão rara!
Disse-lhe que queria escrever sobre ela, e ela, sem quase me conhecer, revelava as obras de arte, as fotos de família, as cartas, a intimidade em caixas de cartão, que eu levava para casa como tesouros.
Tentei escrevê-los, dar-lhes forma, mostrá-los ao mundo para que lhe conhecêssemos não só a poesia, mas também a pintura, o esmalte, a cerâmica, a joalharia, a publicidade, e tanto, tanto mais que ela fez.
Quando terminou o Liceu já dava aulas: “Sempre fui professora!”- dizia. No seu ano foi a única de Sintra a ir para a Faculdade. Cursou Letras por “não ficar bem a uma menina pintar nús”.
Aos 20 anos andou pela cidade. Foi nela que conviveu com Zeca Afonso, Almada Negreiros, Sarah Afonso, Manuel da Fonseca, Agostinho da Silva, Maria Judite Carvalho, Urbano Tavares Rodrigues - tantos da sua geração.
Ela, que como eles era artista multifacetada. Só aos 90 anos foi reconhecida nas Belas-Artes. - “Quis ficar por Sintra… ninguém me conhece!”
Aos 95 anos continuava a ter planos para livros, para viagens, para conversas, para projectos.
Confesso que tive esperança que na sua longa vida tivéssemos tempo de ir contra a corrente e os costumes, de contrariar as hostes e de lhe fazer jus em vida.
Vários espaços foram prometidos para reunir o seu espólio, acumulado em caixas, à mercê da humidade de Sintra e de promessas não cumpridas…esperanças constantemente roubadas a quem não deixava de ter os olhos brilhantes de uma “menina girassol”, de 95 anos, que apenas queria um espaço para continuar a ensinar como sempre fizera - para continuar a aprender.
Num dos últimos dias em que a visitei disse-me num sussurro: “Sabes, o mundo está cada vez mais estranho e eu, estou imobilizada mas não fico quieta, mas...sinto-me triste. Quero continuar a lutar, mas não foi para isto que gritei por Liberdade!
O mundo anda estranho, mas eu continuo atenta!”
E mesmo imobilizada, lutou! Continuou a lutar até ao fim, pela Vida - aquela de dentro, que nunca ninguém lhe tirou.
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