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Perguntas Frequentes sobre o Regulamento Geral de Proteção de Dados da Câmara Municipal de Sintra
João Rodil, historiador sintrense, escritor e divulgador da História Local lançou recentemente uma nova obra, motivo para uma troca de impressões com o autor.
O João Rodil lançou recentemente um livro novo “Os Dias do Corvo”.
Quer falar-nos um pouco desse livro?
É um livro muito especial para mim. De uma forma ficcionada, por vezes poética e com algum humor à mistura, foi onde coloquei algumas das minhas diretrizes de vida, sobretudo em relação à natureza, à família, a Portugal e ao ser português.
O mar, a terra, os ritmos cósmicos, e aquele conhecimento empírico tão específico dos pescadores e agricultores do nosso litoral possuem, são temas recorrentes ao longo do livro.
Depois, há a participação efetiva da minha família, o que me enche de orgulho. Foi um livro que me deu imenso prazer escrever. Há uma relação muito profunda entre o mar e a serra ao longo da sua obra.
Como é que esses elementos ajudam a criar um mito sintrense?
Sintra é uma terra de fronteira, limite da Europa e varanda aberta ao Atlântico. Ora, esse posicionamento geográfico deu-lhe, ao longo de toda a História da Humanidade, um certo cunho de mistério, de lugar sagrado.
E os homens alimentaram essa perspectiva desde a pré-história até aos dias de hoje. Primeiro através dos cultos ofídicos e astrais, depois com os mosteiros e conventos, e hoje com o reconhecimento de todo esse passado fantástico e enigmático.
Mas quem melhor preservou esse mistério foi o povo, os çaharói, ou sejam, os saloios.
Como vê Sintra 20 anos depois da classificação como Património da Humanidade?
Vejo que se realizou muito trabalho na manutenção e recuperação do património de Sintra, vejo que existe uma maior consciencialização do valor desse património e um maior cuidado ambiental dentro da área classificada.
Nesse sentido, justo que se releve o trabalho desempenhado pela empresa Parques de Sintra – Monte da Lua durante estes anos.
Mas existem outros aspetos que me preocupam, sobretudo ligados às zonas tampão e de transição onde muito há a fazer.
São elas – essas duas grandes zonas – que verdadeiramente nos oferecem os atributos de Paisagem Cultural da Humanidade.
Uma outra parte importante do nosso património que merecia um tratamento mais adequado e atento, é o chamado património imaterial. A literatura produzida sobre Sintra, as lendas e tradições, a análise antropológica e etnológica do povo, enfim, tudo aquilo que é genuinamente nosso e que muito cativa e fascina quem nos visita.
Na obra agora editada, o papel estrutural da família ressalta do texto de forma impressiva. O que deve ser para si uma família nos tempos que correm?
A família é o centro do mundo social. Na minha perspetiva, deve ser a fonte de transmissão de conhecimento mútuo onde todos aprendem com todos. E nessa transmissão de conhecimento, devem estar à frente os valores espirituais, os sentimentos de fraternidade e de solidariedade, a constante consolidação e renovação dos afetos.
Quanto melhor forem as famílias, melhor será a sociedade.
Como vê os estudos e trabalhos de História Local em Sintra, você que já fez a monografia da maior parte dos locais emblemáticos do concelho?
Nos últimos tempos, vejo o estudo da História Local com alguma ambiguidade. Por um lado, sei que existe muita gente empenhada nesse estudo, com investigações da máxima importância em várias matérias.
Mas, por outro lado, também vejo que esses estudos, na sua maior parte, não conseguem chegar à edição. E isso é muito preocupante, porque Sintra precisa desses estudos, dessas investigações, como terra viva e dinâmica que é.
Não os publicar, é amputar a memória futura e reduzir o conhecimento.
Há uma mitologia em Sintra que deva ser levada a sério ou são sobretudo exaltações ultra românticas, certas manifestações new age com que amiúde nos deparamos?
Há de tudo um pouco. É claro que existe alguma extrapolação, algumas inven- ções, muita fantasia. Mas até isso me agrada, desde que saibamos separar o trigo do joio.
É que só um lugar com esta condição mítica, lendária e histórica que Sintra possui, é que que nos pode abrir as asas da imaginação, do sonho e da utopia.
Sintra, como terra habitada pelo Homem desde o paleolítico, tem com certeza a sua mitologia. E os mitos são obra humana.
Por isso, também nós, neste tempo que corre, havemos de fabricar os nossos mitos.
Qual é o grande projecto coletivo e o pessoal que ainda gostaria de ver realizado?
Tenho muitos projetos coletivos e pessoais. Será sempre difícil escolher um de cada. Mas, talvez por achar que este seria um enorme passo em frente para o Concelho, gostaria muito que fosse criada uma Universidade em Sintra, sobretudo explorando as áreas das Ciências Humanas.
A nível pessoal, é mais complicado especificar um, dada a abundância de projetos. Talvez, um dia, ser capaz de reunir uma equipa multidisciplinar que levasse a cabo uma obra imensa, diria até épica e, muito provavelmente, utópica: a de escrever – em vários volumes, é claro – uma abrangente História do Concelho de Sintra.
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