Documento do mês de janeiro 2014

bp0389-1A

Portugal – Cintra – Paços do Concelho [Material gráfico]. – [S.I.:s.n.,19--] – Postal, papel, sépia; 9 x14 cm

 “ (...) logo ao fundo da ladeira (...) antes de entrar na estrada do Duche, depara-se-nos no Largo do Município (...) o­ edifício dos Paços do Concelho, (...) de construção moderna, em (...) estilo manuelino.
Ali se encontravam acomodadas todas as repartições públicas.”

 Oliva Guerra, Roteiro Lírico, 2ª edição, Lisboa, 1967

 

Para o mês de janeiro apresenta-se um postal do Fundo Iconográfico do Arquivo Municipal de Sintra, quando Sintra ainda se escrevia Cintra.

Ao celebrar 150 anos do nascimento do arquiteto, Arnaldo Redondo Adães Bermudes, mais conhecido por Adães Bermudes, o arquivo histórico não poderia deixar esquecida a obra deste profícuo arquiteto, que deixou a sua arte e os seus testemunhos em Sintra. Filho de Félix Redondo Adães e de Cesina Romana Bermudes nasceu no Porto, a 1 de Outubro de 1864.

Frequentou a Academia Portuense de Belas Artes e, em 1888, ficou em primeiro lugar no concurso, promovido pela Academia de Belas Artes de Lisboa, para obtenção de bolsa de estudos no estrangeiro. Já em França, para além de ter sido aluno de Escola de Belas Artes de Paris, estagiou no atelier de arquitetura de Paul Blondel. Na Cidade Luz expôs os seus trabalhos de arquitetura no Salon. O arquiteto evidenciou desde muito cedo o seu gosto pelas formas manuelinas.

Em Sintra, impôs-se a necessidade de construir uma nova sede concelhia uns novos Paços do Concelho. O executivo camarário, presidido por Virgílio Horta, deliberou, numa óptica futurista, aproximar a Câmara do novo bairro da Estefânia que crescia sob o signo do progresso. São os ventos de modernidade que acompanhavam a viragem do século XIX para o XX, que não se compadeciam, já, com a idiossincrasia do antigo burgo sintrense, entalado na própria Serra, nem, tão pouco, com as insuficiências oferecidas pelo velho edifício dos Paços do Concelho de D. Maria I (de finais de Setecentos), — é a conjuntura regeneradora de fin de siècle — a propulsionar o crescimento de Sintra num outro espaço.

A construção dos Paços do Concelho faz parte integrante do progresso geral dos melhoramentos para Sintra, ao nível dos edifícios públicos. Assistiu-se, portanto, à deslocação do centro económico-social e civil, que obrigou também à transferência das principais entidades administrativas e exprobratórias.

Para a construção optou-se por um lugar acessível, quer para a Vila Velha, quer para o burgo da Estefânia, passando o burgo a estar mais disperso. A “Vila Nova” moderniza-se, enquanto a “Vila Velha” permanece com um estatuto próximo do “Centro Histórico”. Se a esta bipolaridade, urbana se acrescentar de estar a “Vila Velha” fortemente cerceada de se expandir fisicamente, melhor se entende a deslocação do eixo da vila para um novo centro, o que não implica forçosamente uma hierarquização dos dois núcleos, mas certo é também que o peso que ambas possuem no global da urbe, constitui uma reestruturação de um espaço.

Adães Bermudes conseguiu-o utilizando um gosto revivalista que adaptou ao estilo neo-manuelino, mas sempre utilizando um grande ecletismo nas construções. 

O melhor espaço para o risco e criatividade de Adães Bermudes, arquiteto de múltiplas potencialidades, encontrava-se num local desnivelado e ermo — onde uma pequena Capela Manuelina devota a São Sebastião, a apresentar alguma degradação e com o cemitério desativado — mas fundamentalmente pelo facto do terreno onde se localizavam pertencer à Edilidade, permitiram no seu conjunto, a opção para a construção dos novos edifícios.

Os Paços do Concelho estão metaforicamente construídos na direção do Paço Real, como se o esteiro da jurisdição de outrora se dilatasse.

Cota: AMSNT/AH/BP0389/Cx. 06

 

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