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Leal da Câmara Revisitado no MU.SA

O MU.SA – Museu das Artes de Sintra inaugura, a 18 de janeiro, 'Leal da Câmara Revisitado (1876-1948)', uma exposição de pintura, desenho, caricatura e mobiliário, patente até ao dia 3 de maio.

'Leal da Câmara Revisitado' remete-nos, através da obra pictural de um dos melhores artistas portugueses de sempre, para um lugar mágico e de contemplação de um sem número de conjunturas, de acontecimentos e de personagens fixadas magistralmente pelo 'olho assombrosamente feiticeiro' desse vulto da Arte Portuguesa que foi Leal da Câmara.

Esta exposição de Mestre Leal da Câmara recorda a figura e a exemplaridade ímpar de Mestre Leal da Câmara (30.11.1876 | Pangim, Goa – 21.07.1948 | Rinchoa, Sintra) enquanto humanista, cidadão, artista, caricaturista e republicano, que tudo foi e que se destacou de entre os seus contemporâneos e triunfou, sem favores, na vanguardista, cosmopolita e iluminada Paris das primeiras décadas do século passado.  A mostra revisita a brilhante obra e o talento criador de uma culta 'individualidade multiforme', que abraçou diversas facetas durante a sua intensa e ativa vida de quase 72 anos – pintor, caricaturista, paisagista, retratista, cartazista, designer gráfico, desenhador de mobiliário, decorador, cenógrafo, professor, jornalista, escritor, agente cultural e urbanizador – como foi Tomás Júlio Leal da Câmara.

Esta mostra assinala ainda a passagem dos 110 Anos da República Portuguesa com uma ousada e ampla Exposição dedicada a um dos mais convictos e fidedignos republicanos portugueses, que, desde a primeira hora, abraçou com desembaraço e original atrevimento os ideais de um novo e desejado regime em oposição clara e direta à Monarquia, tendo, por isso, pago um elevado preço, como foram as constantes e violentas perseguições políticas de que foi alvo, as apreensões e destruição dos jornais e revistas onde vinham publicadas as suas sarcásticas caricaturas e os exílios forçados de Leal da Câmara em Madrid e em Paris.


Entrada livre.

 

BIOGRAFIA || Leal da Câmara

Tomás Júlio Leal da Câmara nasceu em Pangim (Nova Goa, Índia Portuguesa), a 30 de novembro de 1876, filho de um oficial do Exército, Eduardo Inácio da Câmara e de D. Emília Augusta Leal.

Em 1895, com a morte do seu pai, Eduardo da Câmara, o jovem estudante prefere alterar radicalmente o seu estilo de vida. Abandona definitivamente o curso superior que, entretanto, iniciara, trocando-o pela profissão de jornalista, ocupação muito mais compatível com o seu modo de ser. O incisivo poder crítico da sua personalidade, manifesto no campo humorístico do desenho caricatural, leva-o, por mérito próprio, a atingir notabilidade no meio intelectual português.

Tal reconhecimento artístico não foi suficiente para evitar um exílio forçado, como fuga ao mandato de captura e inerente degredo, motivados pelas suas sarcásticas críticas em desenhos publicados, onde ridicularizava as mais destacadas e omnipresentes figuras públicas e políticas do Portugal de então. Remonta ao ano de 1887, a primeira colaboração artística de Leal da Câmara, inserta num órgão escolar intitulado O Lyceu Illustrado. Entre 1887 e 1896 colabora ativamente em muitos jornais e revistas de índole republicana. Publica, em 1897, n' Os Ridículos e n' A Marselhesa, juntamente com João Chagas e no ano seguinte colabora, pela primeira vez, n' A Corja.

Um ano depois parte para o exílio espanhol. No decurso de 1898, o republicano convicto, o caricaturista subtil, o artista rebelde, atravessa a fronteira, iniciando-se uma longa ausência do país. Em Espanha, fixar-se-á durante 3 anos. A grande capital vizinha conhecerá o seu risco escalpelizante entre 1898 e 1900, divulgado em publicações de inequívoca qualidade. Todavia, 'a morada ideal dos poetas' ficava mais a norte, em Paris. Esta cidade, à época capital da Europa, senão mesmo de todo o mundo culto, provocava desejo e anulava qualquer hesitação. Já em Paris, colabora em vários periódicos, as galerias 'Weil' e 'Montmartre' expõem-lhe frequentemente as obras, sobretudo em certames coletivos, juntamente com Picasso, Paco Sancha, Abel Faivre, Rouveyre Willette, Braun, Gottob, Jacques Villon, etc.

Em 1908, o jornal lisboeta O Século solicita a colaboração de Leal da Câmara e começa a publicar-lhe trabalhos no Suplemento Humorístico, que o artista envia de Paris. Com a Implantação da República em Portugal, Leal regressa a Lisboa. O período mediado entre 1911 e 1913 possuirá uma dualidade divergente na sua carreira, mas artisticamente o pintor é recebido na sua pátria com todas as honras prestadas a um exilado. Mais tarde e desencantado, retorna a França. Será curta, contudo, esta segunda passagem por Paris, mas nem por isso menos produtiva. Leal da Câmara expõe na Sala do 'Cercle Berthelot' ou na Galeria 'Sargot', colaborando no Le Barbare, no Nos Poilus e participa em conferências e palestras sobre História da Caricatura e Publicidade. Vive em Paris entre 1913 e 1915, mas o ambiente bélico na Europa, fá-lo regressar definitivamente a Portugal. Agora, sem os sonhos e as saudades criadas durante o exílio, fixa-se em Leça da Palmeira e torna-se professor, regendo as disciplinas, primeiro de Desenho Industrial na Escola Infante D. Henrique, depois de Desenho Ornamental na Escola Industrial de Faria Guimarães, ambas no Porto.

Em 1916 funda a Societé Amicale Franco-Portugaise, com o intuito de promover as relações entre os 2 países, ano em que colabora ativamente no Miau!. Um ano depois, sai a público o seu livro Miren Ustedes. Com o fim do conflito mundial e em colaboração com o escultor Teixeira Lopes, promove uma campanha pela construção, em França, de uma Aldeia Portuguesa  que perpetuasse o registo da presença, da participação e do sofrimento do povo naquelas terras martirizadas. Iniciativa esta que ficaria pela construção de um cemitério, onde, mais de 2 milhares de soldados lusos ainda permanecem.

Em 1920, opta por Lisboa, pede transferência para a Escola Industrial de Fonseca Benevides e casa-se com D. Júlia de Azevedo, continuando a publicar nos jornais e revistas portugueses de então.  Junta-se a um grupo de artistas,  como Diogo de Macedo, António de Azevedo, Henrique Moreira, Joaquim Lopes, Abel Salazar, Armando Bastos, Almeida Coquet, António Lima, Henrique Medina, Mário Pacheco, Carlos Ribeiro, entre outros e fundam Os Fantasistas, expõem e exibem as irreverências do 'tempo do simbolismo'.  Entre 1920/1921, o Mestre dá a conhecer, pela primeira vez, a sua série de 'Pierrots', no Salão Bobonne. Durante 1922, é encarregue da organização e decoração do Pavilhão Português na Exposição Internacional do Rio de Janeiro.  

Em 1923, Mestre Leal da Câmara, a pretexto de não querer viver na extenuante Lisboa, adquire na Rinchoa, a dois passos da Feira das Mercês, um velho casal saloio. Os Saloios, neste caso da Região de Sintra, encontram-se documentalmente retratados, inserindo-se na última fase existencial e de captação artística de Mestre, podendo-se falar, inclusivamente, de ‘Saloios antes de Leal da Câmara’ e de 'Saloios depois de Leal da Câmara'.

Viveu na Rinchoa entre 1930 e 1948, acumulando o seu labor de artista com a sua atividade de professor em Lisboa. Falece na sua casa em 21 de julho de 1948, encontrando-se sepultado no cemitério de Belas.

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