Exposição de Ceija Stojka em Sintra
O presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, inaugurou a exposição da artista austríaca Rom Ceija Stojka, patente no MU.SA – Museu das Artes de Sintra e que ficará em exibição até dia 2 de janeiro de 2022.
Esta exposição, apresentada pela primeira vez em Portugal numa colaboração com a sua família, insere-se na “Celebração da Cultura Rom”, que assinala a programação da 15.ª edição do LEFFEST - Lisbon & Sintra Film Festival. A inauguração, realizada este domingo, contou ainda com o diretor do LEFFEST, Paulo Branco e um dos curadores da exposição, António Costa.
Para Basílio Horta, Sintra receber esta exposição é “extremamente oportuno, quer pela importância do tema, quer por ser um concelho de encontro entre civilizações, etnias, de línguas e culturas. Portanto, é com muito gosto que inauguramos hoje esta mostra magnífica, que é mais um marco no LEFFEST, um festival que temos tanto empenho e gosto em apoiar”.
Durante o evento, Paulo Branco referiu que “Graças ao apoio de Sintra o festival existe e, mais do que isso, temos este espaço magnífico que aproveitamos para trazer uma exposição. Esta exposição é para nós muito especial, sendo a primeira vez que em Portugal se vê os quadros de Ceija Sojka”.
A obra de Ceija Stojka (1933-2013), artista Rom austríaca que aos 12 anos foi libertada de um campo de concentração nazi, está a ser uma das mais extraordinárias descobertas na Europa nos últimos anos, com as grandes exposições de Marselha (La Friche la Belle de Mai, 2016), Paris (La Maison Rouge, 2019), Madrid (Museu Reina Sofia, 2020) e Malmö (Konsthall, 2021). A sua obra foi ainda exibida em diversas exposições coletivas, na Europa e na América do Sul. Esteve também representada na ARCO, em Madrid, em 2020.
O pai foi deportado para Dachau em 1941 (e ali viria a morrer), e Ceija, a mãe, os irmãos e as irmãs foram deportados para Auschwitz-Birkenau em 1943, tendo ficado detidos na secção designada por “Campo das famílias Ciganas”; mais tarde, depois da morte do irmão, foram transferidas para um campo de concentração para mulheres, em Ravensbrück, e já em 1945, Ceija e a sua mãe foram transportadas para Bergen-Belsen, de onde seriam libertadas pelas tropas inglesas.
Como acontece muitas vezes nos grandes traumas, a necessidade de testemunhá-los chega depois de um longo período de silêncio e de vergonha. A partir do final da década de 1980, 45 anos depois da sua libertação dos campos de extermínio nazis, Ceija começa a pintar e a desenhar, da mesma forma autodidata com que tinha começado a escrever aquilo que vivera (vários dos seus livros, publicados na Áustria, foram já traduzidos em várias línguas e editados em França, Inglaterra e Espanha; sê-lo-ão também em breve nos EUA). O conjunto do trabalho que realizou ao longo de 20 anos, surpreendente pela sua força e extraordinária qualidade, dá a sensação de uma espécie de grande diário onde se misturam pinturas e escritos que nos dão conta das memórias atormentadas de uma criança de 12 anos no que se designou Samudaripen ou “holocausto rom” (durante o qual foram exterminados cerca de meio milhão de ciganos).
As suas pinturas dividem-se em dois eixos distintos: o primeiro, a que poderíamos chamar o das “pinturas leves”, são as memórias dos tempos felizes antes do deflagrar da guerra, nas quais ela desenha e pinta a vida nas caravanas, a família, as feiras e a natureza; o segundo, que poderíamos designar o das “pinturas sombrias”, mostra-nos a perseguição aos Rom durante a ocupação nazi, com as prisões, a opressão, as atrocidades e a tortura, o extermínio, a sobrevivência e, finalmente, a libertação.
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