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OPINIÃO | Arquitetura
RAUL LINO ACTUALIDADE DE UM MESTRE
Raul Lino realizou o essencial da sua formação no estrangeiro, numa aprendizagem técnica e intelectual em contacto directo com a civilização inglesa e a germânica.
Com o seu mestre alemão Hauptmann, Lino irá mesmo adquirir os fundamentos da sua interpretação da História portuguesa, a qual elege o nosso Humanismo como modelo das mais altas virtudes e expoente máximo da nossa individualidade artística. A lição renascentista deve-a Raul Lino inteiramente a Hauptmann, o qual era um especialista no Renascimento português. Em Hannover, Lino adquire um livro que se irá tornar no seu livro de cabeceira para toda a vida: Walden, ou a Vida nos Bosques, de Henry David Thoreau. Caminhante infatigável, grande amante da Natureza, Lino era um ecologista avant la lettre, a sua atitude crítica e desencantada em relação ao desenvolvimento das sociedades industriais do norte europeu colhia por razões óbvias escasso interesse no Portugal substancialmente agrícola de seu tempo, e confronta-se ainda hoje com inúmeras incompreensões no nosso país. Quem, hoje, senão as franjas mais radicais do movimento ecologista, defenderá em Portugal a ideia de decrescimento económico? Mas essa mesma ideia encontra-se em Raul Lino naquele reduto intimista da sua obra arquitetónica que são as casas que construiu para a sua vida: a Casa Branca, nas Azenhas do Mar, e a Casa do Cipreste, em S. Pedro de Cintra. Casas pensadas sem electricidade ou garagem para o automóvel. As polémicas ideológicas em torno da obra de Raul Lino ofereceram apenas até hoje um empobrecimento na abordagem da sua mensagem essencial que é universal e cosmopolita na sua abertura a variadas culturas, sendo em simultâneo profundamente europeia e ocidental, tendo ainda as suas raízes no húmus histórico português, sobre o qual o arquiteto reflectiu livre e inteligentemente. As facetas do seu génio artístico são múltiplas, mas existe uma que não tem sido justamente apreciada, a do escritor artístico que ele também foi. Ler Raul Lino é como ouvir um romântico, um Schubert quiçá, ou como emocionarmo-nos diante de uma cascata ao luar na montanha da Lua
Cintra só podia ser o lar natural de um artista como Raul Lino, aqui resistirá sempre uma ideia de Natureza a todos os Modernismos desumanizantes, e o arquiteto da Casa Portuguesa ensina-nos por seu lado, com seu legado sintrense, a olhar os arquétipos povoadores da nossa cultura colectiva com uma atitude que se quer permanentemente crítica, profunda, criativa e independente.
Jorge Telles de Menezes, Escritor
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