Entrevista a Tila Barracosa

A nossa ação na Voando em Cynthia visa dar nova luz para que haja evolução
 


Fundada legalmente a 27 de março de 2008, mas com intervenção local desde 2003, foi desde a I Edição do Encontro de Alternativas em Sintra, a 29 de setembro de 2006, que a Voando em Cynthia começou a desempenhar um papel importante na divulgação e promoção de formas de vida saudáveis, terapias alternativas e na divulgação de novas áreas de conhecimento, procurando sempre envolver a comunidade e dando a conhecer padrões de vida para muitos já adotados como forma de realização e forma de estar. 

Este mês, e em vésperas do 10º Encontro de Alternativas em Sintra, falámos com Tila Barracosa Franco, a mentora deste e de outros projetos.


 

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Como surgiu a Voando em Cynthia e quais foram os seus propósitos de ação?

A Voando em Cynthia aparece inicialmente como uma companhia de teatro que fundei para dar corpo a uma peça de teatro infantil “ Zé Maria e a Bruxa”, com texto da Luísa Barreto e música original e ao vivo de Cláudio de Brito. Estreou no Centro Cultural Olga  Cadaval no dia 1 de junho de 2003, no Dia Mundial da Criança, com sala esgotada.

Esta peça teve um percurso bastante interessante, tendo sido a primeira peça de teatro infantil a ser apresentada na Quinta da Regaleira e passando também por diversas salas e escolas EB1 de Lisboa e Sintra.

Em 2001 fiz um curso de formação para animadores culturais para a Câmara Municipal de Sintra e no módulo de Planeamento de Projetos, elaborei um projeto a que chamei “ Encontro de Alternativas em Sintra” que era um evento multidisciplinar que pretendia juntar artes, saberes e modos alternativos e saudáveis de vida.

Este projeto esteve fechado na gaveta durante cinco anos e de repente houve a hipótese, por convite do Pelouro da Cultura da CMS, de o pôr em prática. Assim, aconteceu o Iº Encontro de Alternativas em Sintra (EAS) e a Voando em Cynthia perdeu a designação de companhia de teatro e alargou fronteiras para outros voos, realizando o sonho de juntar e partilhar diferentes artes, práticas e sabedorias, mostrando projetos e vivências alternativas e contribuindo assim para o envolvimento da comunidade.


A vossa interação com a comunidade prende-se com maneiras de estar e viver apostando em padrões mais racionais mas menos divulgados. Porquê essa preocupação?

Esta sociedade é castradora, manipuladora, somos formatados para o lucro dos grandes lobbys, ora isso tem que mudar e só muda através da consciência de que cada um é único, criativo, com direito à vida e a ser feliz. Cada um ao se mudar a si próprio, mudará também a sociedade.

Estamos todos interligados e fazemos parte deste planeta tão belo, tão generoso e tão mal tratado. Temos a responsabilidade da nossa pegada, da nossa ação no meio ambiente e da nossa intervenção. Somos seres inteligentes, com poder de agir, de mudar, e o mais belo de tudo: temos a capacidade de trabalhar em conjunto.

A nossa ação na Voando em Cynthia visa isso mesmo: dar nova luz para que haja evolução. E afinal as alternativas não são mais do que aquilo que já é ancestral, o respeito pela mãe natureza, o retorno ao ciclo natural da vida, a prática de terapias milenares, a agricultura biológica, a construção de habitações com materiais orgânicos, o respeito por nós próprios, o poder de construir um mundo melhor com seres cada vez mais conscientes e despertos.


Como foram as experiências destes dez anos de Encontros de Alternativas?

Os últimos nove anos de “Encontros” foram muito gratificantes para mim e para a Maria Barracosa. Cada Encontro tem uma dinâmica muito própria, os projetos que mostramos são sempre diferentes, bem como as pessoas que nos visitam, mas existe sempre algo permanente no Encontro de Alternativas em Sintra, algo que une pessoas, projetos, artes e sabedorias: a partilha.

O EAS não é uma feira, como muitos insistem em lhe chamar, o EAS é mesmo um encontro, onde as pessoas se encontram umas com as outras e com elas mesmas. No decorrer destes dez anos, aconteceu várias vezes ser abordada por pessoas que não conheço e dizerem-me “Tu mudaste a minha vida!” e eu ficar admirada e pensar:

“Eu? Como?”… afinal tinha sido a palestra, o documentário, o workshop ou a prática que essa pessoa tinha experienciado no Encontro.

O EAS tem este “dom” de despertar consciências, mudar atitudes, fazer “clicks” dentro de cada um. E é isso que nos move e que nos motiva a continuar a dar vida ao Encontro de Alternativas em Sintra até hoje, dez anos depois, apesar de todas as dificuldades para a sua realização.


O que poderemos ver e encontrar na edição deste ano?

Este ano começaremos no dia 29 de maio por receber o palestrante argentino Daniel Gagliardo, que estará connosco a responder a perguntas sobre a temática “Conhecimento Cósmico para a Nova Humanidade”.

 Como habitualmente, ofereceremos uma programação variada, com diversas palestras sobre os mais variados temas, Práticas de Yoga, Aikido, Chi-Kung, Demonstrações de Mountainboard, Capoeira e Goalball, Workshops de Yoga do Riso e de Dança-Terapia, Oficinas de Fiação, Olaria, Plantas Aromáticas, Construção de Mini-Jardins. Teremos também Teatro Infantil e diversas atividades para as crianças e para toda a família, Concertos Meditativos, Fado, Musicas do Mundo, Sapateado, e tantas outras surpresas que reservamos para este ano de comemoração de 10º aniversário.

A par desta programação pluridisciplinar, poderão encontrar ainda diversas associações como a Associação de Defesa das Crianças e Jovens em Risco, a C.A.S.A. – Apoio aos Sem-Abrigo, a Amnistia Internacional, a AMMA ou a Associação Vegetariana Portuguesa, entre outras. Teremos também vários projetos de Desenvolvimento Humano, artesanato de autor, produtos de agricultura biológica e alimentação vegetariana.

E tudo isto, de 29 a 31 de maio, nos Jardins da Biblioteca Municipal de Sintra – Casa Mantero- e com entrada gratuita.

“Não nos queremos “vender” a patrocinadores”


O Encontro veio para ficar? Que condições serão necessárias para a sua consolidação no futuro?

Ao final de nove edições, e à beira da 10ª, podemos dizer que o Encontro de Alternativas já vive e respira em Sintra. Se vai continuar?

Considero o Encontro de Alternativas um evento importante no panorama cultural sintrense, não só pela quantidade de pessoas que vêm de todo o país, mas principalmente pela qualidade que eu e a Maria nos esforçamos por manter e apresentar de ano para ano. Todos os projetos que nos chegam, e alguns de além-fronteiras, são sujeitos a uma rigorosa seleção, sendo apenas escolhidos aqueles que se encaixam nos parâmetros de originalidade, sustentabilidade e consciência que sustenta este evento.

Há seis edições que mantemos o Encontro apenas com o valor das inscrições, o que se torna cada vez mais insustentável, e como “não se fazem omeletes sem ovos”, provavelmente não conseguiremos continuar a fazer este Encontro acontecer sem qualquer apoio financeiro ao projeto.

Há dez anos que a entrada é livre, e o acesso a todas as atividades que encontram na nossa programação também, mas a estruturação começa a tornar-se pesada. Não nos queremos “vender” a patrocinadores que não tenham a ver com os pilares concetuais do Encontro, queremos manter a coerência e a ética.

A continuação deste projeto, ano após ano, tem-nos saído do corpo, da alma e da carteira, mesmo com escasso apoio financeiro, até aqui, tem feito sentido.

Quando deixar de fazer, logo se vê.

Aproveito para agradecer a todos os que ao longo destes seis anos de crise têm oferecido o seu contributo pro bono em todas as áreas de produção e artísticas. 


A Voando em Cynthia deu também vida a um novo evento em Sintra, o Rota d’Artes – Produtos Naturais & Bio. Quer falar-nos um pouco desse projeto e dos planos que têm para ele?

A Rota d’Artes – Produtos Naturais & Bio é o mais recente projeto da Voando em Cynthia, em co-produção com a CMS. É uma mostra bi-mensal de trabalhos de vários artistas e artesãos, assim como produtores e agricultores biológicos, de entrada livre. Na Rota d’Artes oferecemos também, em cada edição, uma palestra e uma oficina, assim como temos frequentemente artistas a trabalhar ao vivo.

Aos segundos sábados de cada mês, a Rota d’Artes acontece na Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, na Estefânea, e aos quartos sábados no Largo do Museu Anjos Teixeira, na Vila Velha de Sintra.

Este projeto arrancou em março de 2015, e está para já programado até dezembro deste ano.

Nesta fase inicial estamos ainda a precisar de apostar na divulgação para a sua expansão em termos de participantes e de visitantes. Embora este projeto seja uma co-produção, é mais uma “omelete sem ovos” que esperamos que ganhe forma e vida.

A Voando em Cynthia trabalha para a comunidade. Em busca incessante pela qualidade, pela oferta da Arte, da Educação, das boas Práticas Ambientais e da Cultura.