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“A redenção é um momento inestimável da leitura”
Raquel Ochoa é uma escritora portuguesa com ligações a Sintra, vencedora em 2009 do Prémio Agustina Bessa-Luís com o romance "A Casa-Comboio” sobre a Índia Portuguesa. Publicou já “O Vento dos Outros” – uma crónica de viagens à América do Sul e “Bana – Uma vida a cantar Cabo Verde”, a biografia do cantor, “A Infanta Rebelde”, em torno da figura da Infanta D. Maria Adelaide de Bragança (2011) o romance "Sem Fim à Vista - a viagem" (2012) e "Mar Humano" (2014) um romance histórico que penetra em temas como a longevidade da vida humana ou o jornalismo que se pratica em Portugal. O seu mais recente trabalho “As Noivas do Sultão”, foi apresentado em Sintra recentemente, sob a égide da Alagamares.
Viajante incansável e com uma criação original e arejada, respondeu-nos a algumas perguntas em ligação com a sua curta, mas já significativa obra literária:
A Raquel Ochoa é uma escritora jovem ligada a Sintra. Acha que há um sentido trágico dominante em Sintra ou serão apenas exacerbações românticas derivadas dos mitos que a ela se associam?
Sintra marca-nos o olhar, como qualquer local de onde as pessoas provêm e cresceram. Ter como ponto de referência Sintra é definitivamente uma caraterística distintiva. O efeito prático: enquanto viajante só me enchem as medidas os Himalaias, a Patagónia, as maravilhas dos Andes…
Pode considerar-se a sua obra como literatura de viagens? O que pensa desse género literário?
Cumpro (ou tento cumprir…) três géneros distintos: literatura de viagens, romance, biografia. Mas há uma contaminação visível da literatura de viagens nos outros géneros, por ser aquilo a que chamo a minha “língua-mãe”. Penso que é um género com capacidade de surpreender toda a gente porque reflete o mundo, e o mundo nunca é estanque, nunca está todo descoberto.
Miguel Torga dizia que os portugueses tinham um pedaço de terra para nascer e o mundo inteiro para morrer. Revê-se nesta apreciação?
Acho que a emigração escandalosa que está a acontecer nos últimos anos (e que tem acontecido ao longo dos séculos) lê este trecho do Miguel Torga com um sorriso triste. Acho que as pessoas devem partir porque querem, não porque estão encurraladas num país sem oportunidades. É contra isso que devemos lutar.
Qual a sua obra mais conseguida? Já se arrependeu por ter escrito alguma delas?
Ainda não passei por essa experiência! Mas é possível que certas obras sejam mais totais. “A Casa-Comboio” por reanimar uma história adormecida, “O Vento dos Outros” pela ousadia, “Mar Humano” pela profunda crítica, e “As Noivas do Sultão” pela revelação de uma história que é um tesouro, são as minhas preferidas.
Pode dizer-se que o escritor escreve sempre o mesmo livro e toda a obra é autobiográfica?
Não me parece. Tudo é diferente, e o próprio escritor no seu primeiro livro com 25 anos é muito diferente da pessoa que é aos 45, por exemplo.
O que anda a escrever, e que projetos tem para o futuro imediato?
Vem aí outro livro de viagens. Desta vez em África.
Como vê a cena cultural em Sintra e o que poderá ser feito para a dinamizar?
Quem interage e quem dinamiza tem interesse e muito talento. Mas é uma sociedade sem hábitos de reunião, falta curiosidade de espreitar para lá dos muros. Tenho um clube de leitura no Olga Cadaval com um grupo coeso mas trazer pessoas novas tem sido difícil. Só há um remédio: insistir.
O que pensa que procura o leitor quando busca uma obra literária? O leitor é generoso ou é um ser distante e que tem de ser conquistado?
O leitor procura-se a si mesmo, disso não tenho muitas dúvidas. E lá se encontra quando lê um parágrafo que, por algum motivo, gostava de nunca mais esquecer. Creio que há vários tipos de leitores. Eu prefiro os desconfiados (e trato de o ser também). Porque a redenção é um momento inestimável da leitura.
Neste tempo de globalização e de redes sociais, o que deve motivar um jovem para a leitura, ou até mesmo para se aventurar na escrita, fora dos estereótipos que a sociedade atual estimula?
Papel e caneta (ou um computador/hpad, etc) é tudo o que precisamos para mudar o mundo. Ou pelo menos conseguir que o mundo não nos mude a nós.
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