Porcelana Portuguesa: A Harmonia dos Contrários
25 de julho a 28 de setembro de 2025, na Sala Polivalente do MU.SA – Museu das Artes de Sintra
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Porcelana Portuguesa: A Harmonia dos Contrários

A riqueza e beleza do nosso património cerâmico inspirou-nos a cruzar a arte dos oleiros portugueses do século XIX e da 1ª metade de XX, com a mestria dos artesãos e técnicos das Oficinas da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, abordando um material inesperado – faianças e porcelanas, antigas e usadas, que são aqui recuperadas, reinventadas e transformadas em novas peças artísticas, ganhando um renovado significado.

Não deixando de evocar a ligação portuguesa a Macau e a importância da chinoiserie na inspiração decorativa das nossas porcelanas, o resultado foi a criação de mais de três dezenas de pequenas histórias que recontam o labor e arte dos oleiros e pintores(as) de várias antigas Fábricas portuguesas espalhadas pelo país – Viana do Castelo, Caldas da Rainha, Alcobaça, Ílhavo, Águeda, Coimbra, zona do Porto, Sacavém, Lisboa, a maioria extintas, cujos testemunhos não quisemos que ficassem esquecidos.

A “Harmonia dos Contrários” evoca o conceito de Heráclito de Éfeso, o filósofo pré-socrático da Grécia Antiga, que acreditava que a essência da realidade está nos opostos que coexistem em tensão e no equilíbrio dinâmico. Daí, a sua famosa máxima: "Tudo flui". É na interação dos contrários que assenta a ordem do universo. Assim, as matérias contrastantes ganham outra leitura, permitindo-nos a recriação da obra de arte através do processo de interpretação, como nos ensinou Umberto Eco.

São sobretudo peças que homenageiam os artífices que as criaram numa justa valorização do saber-fazer e da memória coletiva; que desafiam o olhar do visitante com propostas inesperadas e provocadoras ou, ainda, que evocam o passado com delicadeza e melancolia — são sonhos de um tempo outrora vivido, mas agora revisitados sob o olhar atento e sensível da contemporaneidade.

 

GABRIELA CANAVILHAS
Presidente de Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva


 

Portuguese Porcelain: The Harmony of Opposites

The richness and beauty of our ceramic heritage inspired us to combine the art of 19th and early 20th century Portuguese potters with the mastery of the artisans and technicians at the Ricardo do Espírito Santo Silva Foundation Workshops, tackling an unexpected material – old and used earthenware and porcelain, which are recovered, reinvented and transformed into new artistic pieces, gaining a renewed meaning.

 Without forgetting to mention Portugal’s connection to Macau and the importance of chinoiserie in the decorative inspiration for our porcelain, the result was the creation of more than three dozen short stories that recount the work and art of the potters and painters from various old Portuguese factories scattered throughout the country – Viana do Castelo, Caldas da Rainha, Alcobaça, Ílhavo, Águeda, Coimbra, the Porto area, Sacavém, Lisbon, most of which are now extinct, whose testimonies we did not want to be forgotten.

The “Harmony of Opposites” evokes the concept of Heraclitus of Ephesus, the pre-Socratic philosopher of Ancient Greece, who believed that the essence of reality lies in opposites that coexist in tension and dynamic balance. Hence his famous maxim: “Everything flows”. It is in the interaction of opposites that the order of the universe is established. Thus, contrasting materials take on a new meaning, allowing us to recreate the work of art through the process of interpretation, as Umberto Eco taught us.

These are mainly pieces that pay tribute to the artisans who created them, in a fair recognition of their know-how and collective memory; pieces that challenge the visitor’s gaze with unexpected and provocative proposals, or even evoke the past with delicacy and melancholy — dreams of a time once lived, but now revisited through the attentive and sensitive gaze of the contemporary world.

 

GABRIELA CANAVILHAS
Chairwoman of the Ricardo do Espírito Santo Silva Foundation