Sortilégio Timorense
Abel Júpiter e Sebastião Silva
Texto curatorial de Paulo Morais-Alexandre
8 de novembro a 8 de dezembro | Galeria Municipal, MU.SA – Museu das Artes de Sintra
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Quando se vê as obras de Sebastião Silva e de Abel Júpiter vem à memória, mais do que a pintura, o pensamento simbolista de Paul Gauguin, nomeadamente quando este criador se refere à pintura como um exercício de memória, mas também quando duvida e se questiona se vê uma determinada paisagem ou se antes visualiza o seu sonho.

Assim quando fruímos a pintura destes dois timorenses importa colocar a questão se o que vemos é o Timor verdadeiro, o Timor que eles sonharam, sonham e sonharão, se o Timor que somos nós sonhamos?

Qualquer que seja a resposta, quando se vê esta Exposição, há uma sensação de agrado profundo, já que, de imediato, sabemos que estamos a regressar a Timor e é tão bom voltar a Timor. É tão bom lembrar Timor pelo que foi, pelo que é, pelo que será.

Numa visita recente a esta terra o peregrino dos peregrinos, o Santo Padre Francisco referiu-se a Timor, e perdoe-se-nos a extensão da citação, como uma «[…] terra, adornada de montanhas, florestas e planícies, rodeada por um mar brilhante, rica em frutos e madeiras preciosas e perfumadas – uma terra que desperta sentimentos de paz e alegria no coração – passou por uma fase dolorosa no seu passado recente. Viveu as convulsões e violências, que frequentemente sucedem quando um povo, ao vislumbrar a

independência plena, vê a sua procura de autonomia ser negada ou contrariada. […] No entanto, o país soube reerguer-se, encontrando uma senda de paz e o início de uma nova fase, […]», concluiu o seu elóquio exortando todos os timorenses «[…] a ser confiantes e a manter um olhar cheio de esperança em relação ao futuro.»

É tudo isto que a exposição abarca: a beleza da terra e, obviamente, também do mar, de Tatamailau ao ilhéu de Jaco, a sua riqueza imensa, a formosura do povo, mas também algo de inefável, impossível de explicar, mas tão fácil de sentir, como a paz ou a profunda alegria reinante e, sobretudo, uma confiança e uma esperança nos tempos vindouros.

Há, assim, que descobrir este Timor e a forma como é visto e sentido por dois artistas nascidos nesta bela ilha, Sebastião Silva e de Abel Júpiter, que através da sua notável pintura, representam um espaço mágico, um dos sítios mais extraordinários do mundo, pela paisagem, pelas gentes, pela mística muito particular que tanto a diferenciam e que nestas telas ganham vida e significado.

 

Paulo Morais-Alexandre
Professor Coordenador da Escola Superior de
Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa.
Investigador do Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Académico correspondente da Academia Nacional de Belas-Artes.

Sobre Abel Júpiter


n.1971
Baucau - Timor-Leste

Viveu toda a sua infância em Timor durante a ocupação indonésia. Aos 19 anos deixou Timor com destino a Jacarta, seguindo depois clandestinamente para Macau.

Em Macau estudou e trabalhou até agosto de 1998, ano em que veio para Portugal. Licenciou-se em Ciência Política e Relações Internacionais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

O seu gosto pela pintura manifestou-se desde pequeno. Em Timor dada a situação vivida nunca teve oportunidade de pintar seriamente, mas também nunca deixou de interessar pela pintura.

Quando pinta, é fiel a si mesmo, e acredita que cada pintor tem dentro de si algo que funciona de acordo com as suas necessidades. Na sua pintura procura retratar pessoas simples do campo pelas quais tem uma grande admiração e respeito, combinando-os com os espaços rurais onde passou a sua infância.

 

Exposições individuais e coletivas:

2024 - Exposição Coletiva “Porto de Nós” no Centro das Artes do município de Porto de Mós;

2023 - Biblioteca Pública de Évora;

2022 - Exposição Individual “Saudade ou et l’or de leur corps” no Espaço de Arte do Instituto Politécnico de Lisboa;

          - Espaço Garrett da ESTC;

2020 - Exposição Coletiva “Reencontro” na Casa da Cultura Lívio de Morais;

2017 - Bienal de Culturas Lusófonas – Câmara Municipal de Odivelas;

2015 - 1ª Edição da Exposição da Lusofonia no Clube Militar em Macau;

          - Bienal de Culturas Lusófonas – Câmara Municipal de Odivelas;

2013 - Galeria de Arte do Casino Estoril – Artistas dos Países Lusófonos;

          - Casa Museu em Macau - Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa no âmbito da 5ª Semana Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Taipa - Macau);

          - Bienal de Culturas Lusófonas – Câmara Municipal de Odivelas;

2011 - Bienal de Culturas Lusófonas – Câmara Municipal de Odivelas;

2010 - Fundação Medeiros e Almeida “Semana Cultural da CPLP, Lisboa;

          - Arte Timorense, Museu do Oriente, Lisboa.
Sobre Sebastião Silva


n.1963
Timor-Leste

Testemunhou a Guerra civil de 1975, seguida da invasão da Indonésia em dezembro do mesmo ano.

Sebastião passou a maior parte da sua juventude no campo, a trabalhar lado a lado com os camponeses na parte da manhã e reservava a tarde ao Ensino no Externato de São José.

Foi ali, sob influência do Padre Domingos da Cunha, que iria iniciar-se na pintura a óleo.

Começou como um simples passatempo, mas foi descobrindo na arte de pintar ao longo dos anos, uma vocação pessoal.

Considera-se um autodidata na matéria.

Deslocou-se até Jakarta no ano de 1984, com a finalidade de continuar os estudos, nessa altura conseguiu escapar para Portugal e um ano depois emigra para a Austrália.

Em 1991 visitou Portugal e com ajuda de alguns amigos, conseguiu realizar a sua primeira exposição em Lisboa.

Daí em diante foi pintando da única forma que sabe e expondo em muitas galerias australianas, até ao final de 1998.

Em 1999, depois do referendo, voltou ao país de origem. A vida tomou um rumo diferente e a pintura de quadros diminuiu drasticamente, chegando mesmo à cessação total. Só muito recentemente retomou novamente os pincéis para esta tão aguardada exposição.

 

Exposições individuais e coletivas:

1997 - Hotel Tivoli, Sintra – Portugal;

1996 - Stanphorpe Arts Festival Queensland – Austrália

1995 - Darwin Entertainment Centre, Darwin, NT – Austrália;

          - IDEA 95, Queensland University of Technology Brisbane, Queensland – Austrália;

          - Northern Territory University, Darwin, NT – Austrália;

1994 - Meat Workers Union Townsville, Queensland – Austrália;

          - Step Galery Melbourne, Victoria – Austrália;

1993 - Tom Nelson Hall Maritime Union of Australia, Sydney, NSW – Austrália;

          - Darwin Performing Arts Centre Darwin, NT – Austrália;

1992 - Padrão dos Descobrimentos, Lisboa – Portugal.