CORPO PAISAGISANTE
JOSÉ CAVALHERO
Pintura
15 de dezembro de 2023 a 14 de janeiro de 2024 I MU.SA – Sala Polivalente – piso 0
Image
A partir das paisagens fotografadas pelo meu pai, registadas em diapositivo (slide), as pinturas da série corpo paisagisante procuram a transposição daquelas imagens-luz que se projetam na superfície da memória de minha infância e as atualizam em materialidade pictórica, compondo um corpo que se paisagisa e ocupa espetralmente a paisagem originalmente fotografada. Esse corpo sempre esteve (e ainda está) presente virtualmente na paisagem registada em slide. E ele pode se apresentar por diferentes formas ao atualizar a sua visibilidade.
Barcos, casas, rochedos e tantas outras possibilidades para dar visibilidade a uma pintura a um corpo paisagisante. São formas para expressar a força da passagem flutuante de um corpo-barco sem rumo certo; a imobilidade de uma corpo-casa que sofre em suas estruturas com a passagem do tempo; a solidez de um corpo-rochedo que se modifica, impercetivelmente, pelo intemperismo. São todos um só corpo de uma vida que se paisagisa a cada vez.
Em cada pintura, esse corpo ganha diversas superfícies paisagisadas na composição entre a imagem fotografada e os atravessamentos que sua transparência permite, atualizando a imagem por um jogo de sobreposições onde “passado” e “presente” confundem-se e tornam-se um só corpo. Essa nova materialidade que a imagem produz, não é finita e nem decisiva – é vulnerável e aberta, transmuta-se nos acontecimentos de uma intervenção externa, de um desejo intrínseco ou na combinação de ambos.
Há corpos que reprimem a suscetibilidade diante das forças que lhes indicam modificações, a ponto de se blindarem e formarem uma opacidade plana e sem contrastes, num estado de conservação, num esforço para se manterem encerrados nas conhecidas paisagens. Há outros que quando se liberam para paisagisarem-se a partir de outras possíveis configurações, permitem-se ser irrupções, brechas, rachaduras, aberturas por onde algo passa a escapar e cria uma forma singular ainda por vir, um devir outro, imagem-corpo que só se faz visível fora do conhecido - feitio de imagem criada do dentro, mas como paisagem que só se faz visível sob perspetiva que o transpassa. O ato de repaisagisar um corpo é seguir o rastro eruptivo, a linha de fuga, a orientação que nos faz perceber a potência dos escapes, tornando-nos corpos paisagisantes singulares e, ao mesmo tempo, plurais.
Sobre o autor

Nasceu em São Paulo/Brasil.

Formado em Artes Plásticas na Fundação Armando Alvares Penteado – (FAAP-SP), pós-graduado em Psicologia Clínica do Núcleo da Subjetividade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Brasil (PUC-SP) e psicanalista da associação ALCEP – Curitiba/Brasil. No Brasil, coordenou grupo de artistas-professores em ateliês de artes visuais para pessoas deficientes e formação continuada de professores em instituições escolares.

 

Exposições coletivas

2023      - V Bienal Internacional de Gaia (Vila Nova de Gaia)

                - BIALE - I Bienal Internacional do Alentejo (Estremoz)

2021      - Premio Internacional de Artes Plásticas (Museu da Guarda)

 

Exposições

2023      - Individual - Morada Memória Rés do Chão  - Galeria Municipal Augusto Cabrita – Seixal

 

Residência artística

 

2021 a 2023 – Armazém 56 - arte sx (equipamento cultural da Câmara Municipal do Seixal)

2023      - Laboratório de Práticas Artríticas da Associação Cultural NowHere – Lisboa.