“O devir de um corpo em maturação. A persiana entreaberta cruza o espaço-tempo e avista, ao longe, um caminho, uma saída. O reluzir de uma chama, os contornos de um edifício, o que vive fora dentro de mim? Uma janela de apartamento que se abre para cachos de flor. O trajeto do túnel, do voo, do sonho. O que esperar, tentar, revelar? Adiante. O certo e o errado não existem: luz e escuridão se irmanam numa poética fulgurante de imagens que se alternam e afirmam a existência transitória da vida. Cenas que fazem vivenciar beleza e solidão, amor e dor, vida e morte, qualidades intrínsecas à condição humana – inseparáveis de toda e qualquer forma de abrigo. Novo ou antigo.
A matéria claro-oscura se nos oferece, plena, nos belos contrastes de uma câmara que afirma a solidez do instante, o flagrante que nos inquire, o gato preto que somos e a transcendência de nossos desejos. Trata-se de imagens de ver mais além, que também a nós nos capturam e libertam. Como o pássaro negro que risca os céus.
O brilho está em quem vê. Desde a pequena fresta aos desenhos de luz que serpenteiam o chão da nossa imaginação; possibilidades de transformação do ser, sempre em busca de um caminho, um sentido, dentro ou fora de si. Nos interstícios, nos detalhes aparentemente banais de nossa existência, na umidade brumosa de certos dias, nas estradas de terra fugidias, na chuva de cristais que parece redimir nossas dúvidas e aflições, no encontro dos homens. No brilho exato da fotografia de Wanderson Alves.”
Marcia Lahtermaher