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A Vida Imóvel

Quinta da Ribafria – Sintra

13 de outubro 2023 a 14 de janeiro 2024

A Vida Imóvel: a Exposição

Segunda de três exposições do projeto O Museu Fora de Si, A Vida Imóvel será constituída por obras da Coleção Municipal de Arte em diálogo com peças de outras coleções artísticas e científicas do Município – Casa-Museu Leal da Câmara, Museu Anjos Teixeira, Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, Museu Ferreira de Castro e Museu de História Natural de Sintra.

Em A Vida Imóvel serão reunidas obras e peças várias que representam ou se constituem funcionalmente como objetos do quotidiano, entendidos quer como artefactos fabricados quer como peças recolhidas no meio natural – em ambos os casos em resultado de uma intenção cultural. De um modo aberto, estimulante e contemporâneo, a exposição procura evocar uma das grandes categorias da arte ocidental – a natureza-morta – e contribuir para novas leituras e interpretações deste género.

A natureza-morta adquiriu os seus contornos modernos ao longo dos séculos XVI e XVII, difundindo-se por toda a Europa a partir dos Países Baixos. Matéria de discussão e de avaliação, em conflito estético com alguns dos valores classicistas estabelecidos no Renascimento, a natureza-morta obterá a sua aceitação como uma das categorias da criação artística, particularmente no campo da pintura, embora a de menor importância na hierarquia dos géneros estabelecida pela teoria e a prática académica – sendo as suas peças, em geral, as de menor valor no mercado artístico europeu. Apesar desta origem moderna, as suas raízes recuam à Antiguidade, sendo conhecidas obras pintadas ou realizadas em mosaico, tanto gregas como romanas, que se podem inscrever neste conceito. A isto acresce as referências de Plínio, o Velho (23-79 dC), a pintores que se dedicavam a estes temas menores, incluindo um que obteve assinalável sucesso a representar fezes.

Interessante é também o facto de o nascimento moderno da natureza-morta coincidir, no tempo e no espaço, com a criação e a proliferação dos primeiros gabinetes de curiosidade, onde objetos naturais de origens muito diferentes se cruzavam e, por sua vez, permitiam o cruzamento entre arte e ciência, atribuindo uma dimensão estética e museográfica, avant la lettre, a elementos naturais e, desse modo, uma dimensão espetacular à natureza. Refira-se que reside aqui a origem dos nossos museus de história natural ou, mais recentemente, dos museus de ciência.

Referindo-se, em geral, à representação de seres ou coisas inanimadas ou tornadas imóveis, tanto recolhidas no mundo natural como fabricadas pelo homem, a natureza-morta tornou-se artisticamente um elaborado exercício de composição e, em termos estéticos e filosóficos, um campo de significação e de questionamento moral – em que a reformulação visual dos conceitos medievais de vanitas e de memento mori são bons exemplos. Combinando botânica, zoologia e mineralogia, para referir apenas três domínios da história natural, e um olhar atento à cultura material do quotidiano, considerada até aí sem valor estético intrínseco, a natureza-morta – em inglês, still life – tornou-se um elaborado exercício estético e artístico em torno da dimensão vital do mundo à nossa volta, seja ele imóvel, suspenso ou apenas expectante.

A curiosidade sobre a vida à nossa volta revelou-se uma nova forma de olhar para o mundo, mas também para nós próprios, tornando-nos indissociáveis daquele – por contraposição a um olhar centrado exclusivamente sobre nós, consagrado nas categorias superiores do retrato e da pintura de história (entendida como o resultado das nossas ações).

A Vida Imóvel: a Exposição

Segunda de três exposições do projeto O Museu Fora de Si, A Vida Imóvel será constituída por obras da Coleção Municipal de Arte em diálogo com peças de outras coleções artísticas e científicas do Município – Casa-Museu Leal da Câmara, Museu Anjos Teixeira, Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, Museu Ferreira de Castro e Museu de História Natural de Sintra.

Em A Vida Imóvel serão reunidas obras e peças várias que representam ou se constituem funcionalmente como objetos do quotidiano, entendidos quer como artefactos fabricados quer como peças recolhidas no meio natural – em ambos os casos em resultado de uma intenção cultural. De um modo aberto, estimulante e contemporâneo, a exposição procura evocar uma das grandes categorias da arte ocidental – a natureza-morta – e contribuir para novas leituras e interpretações deste género.

A natureza-morta adquiriu os seus contornos modernos ao longo dos séculos XVI e XVII, difundindo-se por toda a Europa a partir dos Países Baixos. Matéria de discussão e de avaliação, em conflito estético com alguns dos valores classicistas estabelecidos no Renascimento, a natureza-morta obterá a sua aceitação como uma das categorias da criação artística, particularmente no campo da pintura, embora a de menor importância na hierarquia dos géneros estabelecida pela teoria e a prática académica – sendo as suas peças, em geral, as de menor valor no mercado artístico europeu. Apesar desta origem moderna, as suas raízes recuam à Antiguidade, sendo conhecidas obras pintadas ou realizadas em mosaico, tanto gregas como romanas, que se podem inscrever neste conceito. A isto acresce as referências de Plínio, o Velho (23-79 dC), a pintores que se dedicavam a estes temas menores, incluindo um que obteve assinalável sucesso a representar fezes.

Interessante é também o facto de o nascimento moderno da natureza-morta coincidir, no tempo e no espaço, com a criação e a proliferação dos primeiros gabinetes de curiosidade, onde objetos naturais de origens muito diferentes se cruzavam e, por sua vez, permitiam o cruzamento entre arte e ciência, atribuindo uma dimensão estética e museográfica, avant la lettre, a elementos naturais e, desse modo, uma dimensão espetacular à natureza. Refira-se que reside aqui a origem dos nossos museus de história natural ou, mais recentemente, dos museus de ciência.

Referindo-se, em geral, à representação de seres ou coisas inanimadas ou tornadas imóveis, tanto recolhidas no mundo natural como fabricadas pelo homem, a natureza-morta tornou-se artisticamente um elaborado exercício de composição e, em termos estéticos e filosóficos, um campo de significação e de questionamento moral – em que a reformulação visual dos conceitos medievais de vanitas e de memento mori são bons exemplos. Combinando botânica, zoologia e mineralogia, para referir apenas três domínios da história natural, e um olhar atento à cultura material do quotidiano, considerada até aí sem valor estético intrínseco, a natureza-morta – em inglês, still life – tornou-se um elaborado exercício estético e artístico em torno da dimensão vital do mundo à nossa volta, seja ele imóvel, suspenso ou apenas expectante.

A curiosidade sobre a vida à nossa volta revelou-se uma nova forma de olhar para o mundo, mas também para nós próprios, tornando-nos indissociáveis daquele – por contraposição a um olhar centrado exclusivamente sobre nós, consagrado nas categorias superiores do retrato e da pintura de história (entendida como o resultado das nossas ações).