Nádia Duvall
Curadoria de Manuel Furtado
03 de outubro a 07 de dezembro de 2025 | Sala Polivalente do MU.SA – Museu das Artes de Sintra

“A exposição TOUCH SCREAM convida a uma jornada imersiva onde a arte e a tecnologia dialogam, desafiando as fronteiras entre o real e o imaginário. O título da exposição evoca uma interação filosófica e conceptual com as obras como se cada uma contivesse em si um ‘grito’ desesperado, simbolizando a expressão visceral, emocional e sincera da experiência de ser simultaneamente mulher, artista e mãe. Neste título o toque não remete tanto para a tecnologia táctil, mas antes para a dimensão psicoafectiva de uma experiência extrema comumente apelidada de maternidade e simultaneamente para a possibilidade de alguns serem tocados pelos gritos silenciosos destas obras.
Cada obra presente na exposição incorpora um elemento verde, uma referência direta ao Green Screen utilizado no cinema e à troca disléxica entre screen e scream permitindo uma interpretação dupla entre o ecrã ou o grito. Este recurso técnico, amplamente explorado pela indústria cinematográfica, permite a criação de mundos fictícios e realidades alternativas.
Na exposição TOUCH SCREAM, o verde funciona como um portal para a ficção e uma fuga a uma realidade por vezes dura e crua.
A exposição é pluridisciplinar, abrangendo pintura, escultura, instalação, fotografia e um filme. Esta diversidade de formas artísticas reflete a complexidade e a minha natureza multifacetada, hiperativa e obsessiva, sendo que também é a base de toda a minha investigação académica. Segundo o teórico Jean Baudrillard, vivemos numa era de simulações, onde a linha entre a realidade e a representação se torna cada vez mais ténue. Em Simulacros e Simulação (1981), Baudrillard argumenta que, no mundo contemporâneo, as imagens e os signos substituem a realidade, criando um hiper-realismo que desafia as nossas perceções
Além disso, Marshall McLuhan, no seu icónico trabalho Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem (1964), destaca como as tecnologias de comunicação transformam a perceção humana e a sua experiência do mundo. McLuhan sugere que os meios tecnológicos não só transmitem informações como também moldam as nossas sensações e cognições. Em TOUCH SCREAM, as obras de arte atuam como mediadores entre o espectador e a ficção, ampliando a nossa compreensão e sensibilidade no que diz respeito, por um lado, ao que é visto e sentido, e por outro, ao que fica escondido na obscuridade que, por vezes, até para mim, é um mistério do meu inconsciente.
Um aspeto crucial explorado em TOUCH SCREAM é a minha experiência como mulher-artista-mãe, refletindo o desespero e os desafios únicos enfrentados não só por mim, mas por tantas outras mulheres que equilibram, como um trapezista, entre dois precipícios, a maternidade e a prática artística, sendo esta última muitas vezes afetada. As obras expostas não só exploram a ficção (como um grito de desespero que anseia fugir da realidade), mas também expressam a realidade tangível das mulheres, muitas vezes invisibilizadas, que enfrentam a pressão constante de criar artisticamente e cuidar de outro em simultâneo enquanto presenciam o próprio corpo a degradar-se. Referenciando a teórica feminista Julia Kristeva, a exposição dialoga com a noção de abjeção e a complexidade da identidade maternal e artística. Kristeva, em Poderes do Horror (1980), discute como a maternidade pode ser uma experiência avassaladora e desestabilizadora, uma dualidade de criação e destruição.
Em TOUCH SCREAM canalizo estas emoções para as obras, o que corresponde a uma necessidade incontrolável, como um grito visual que ecoa as realidades intensas e frequentemente conflituosas da maternidade. Não se trata apenas de um autorretrato, mas do retrato de tantas outras mulheres.
Os visitantes encontrarão pinturas (a que chamo de peles) e esculturas que brincam com a perceção espacial e com a deformação do corpo, objetos encontrados e transformados, fotografias que questionam a autenticidade da imagem, miniaturas numa casa de bonecas que contem os quartos dos meus heterónimos e, por fim, um filme com o título GREEN SCREAM que explora a tensão entre o real e o imaginário, a biografia e a história, o amor e a guerra.
Esta abordagem pluridisciplinar não celebra apenas a diversidade das práticas artísticas contemporâneas, mas também enfatiza a interconexão entre diferentes media na construção de novas realidades e a importância do hibridismo para a compreensão da cultura e por conseguinte da sociedade.
Esta exposição, com uma curadoria imersiva, que apelido de atmosfera curatorial, tal como é habitual nas minhas exposições, é uma experiência sensorial afetiva e conceptual. Aqui a arte reflete não só o mundo, mas também o reinventa, enquanto honra as vozes das mulheres artistas que gritam e criam contra todas as adversidades como verdadeiras Máquinas de Guerra.
Esta exposição tem como inspiração a exposição WOMEN IN REVOLT que esteve patente na TATE BRITAIN (2024) e que tive o prazer de ver ao vivo.”
Nádia Duvall
Sobre Nádia Duvall
n. 1986, Espanha
Nádia Duvall é uma artista multidisciplinar, com atualmente 16 heterónimos, cuja obra reflete múltiplas questões autobiográficas, sociais e políticas com profundas reflexões filosóficas através de múltiplos media tais como escultura, desenho, pintura, vídeo, performance, literatura e cinema. Duvall tem um Doutoramento em Belas Artes (2024) com a classificação máxima de Summa Cum Laude (Distinção e Louvor) pela Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa. Ao longo da sua formação tem realizado múltiplas especializações tecnológicas desde a área do cinema às artes plásticas. Encontra-se atualmente a aguardar os resultados a Pós-Doutoramento através da FCT e na FBAUL tendo por base os projetos de longas-metragens “Dear Oni” e “Sweet & Sour Flavour” e a revista feminista “Gorilla Army”.
Duvall ganhou múltiplos prémios tais como o Prémio Revelação PINTURA do BANIF em 2008; Prémio Arte, Ciência e Tecnologia da DG Artes em parceria com a Ciência Viva; Prémio/bolsa Jovens Criadores do Centro Nacional da Cultura de Portugal em 2016, e o Prémio Jovem Criação Europeia do Museu Amadeo de Souza-Cardoso em parceria com a JCE Biennale em 2019; bolsa de prestígio FCT para Doutoramento (2019-2023) e Mérito no Luxemburg Art Prize vários anos consecutivos. Duvall tem vários livros publicados e participa em Conferências internacionais. Atualmente é representada pela Galeria FOCO e a sua obra está presente em várias coleções privadas. A sua primeira média-metragem “GREEN SCREAM” (42”) foi nomeada para vários festivais internacionais e já foi galardoada com Best Experimental Film no WSXA Barcelona Film Festival (2024) e com duas Menções Honrosas: no Athens International Monthly Art Film Festival (2024) no WSXA & ARFF Internacional Film Festival.
FORMAÇÃO ACADÉMICA e WORKSHOPS
2025 - Curso de especialização Tecnológica: Horror Writing – write a Horror Film, com o escritor Jordan Emiola, Udemy, USA; Curso de especialização Tecnológica: Psychology in Filmmaking, com o realizador Scott Baker, Udemy, Canada; Curso de especialização Tecnológica: Hollywood Film School, Filmmaking & Tv Directing, com o realizador Gil Bettman e IFH Courses, Udemy, USA; Curso de especialização Tecnológica: Directors Working With Actors, com a GetFilmming School, Udemy, Uk;
2024 – Curso de especialização Tecnológica: Direção de Curta-Metragem com o realizador Jiajie Yu Yan, Domestika, Espanha;
2023 - Língua e Cultura Coreana I, Instituto King Sejong de Lisboa, Universidade NOVA;
2019-2024 - Doutoramento em Belas Artes - Pintura, na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, com bolsa FCT, com a classificação Summa Cum Laude (Distinção e Louvor);
2022 - Workshop com a artista francês ORLAN, Museu MAAT, Lisboa;
2018 - Mestrado em Pintura (media 18, dissertação 19), Faculdade de Belas Artes, Lisboa, com publicação de dissertação pela Multiple Skins Editions;
2017 - Curso de especialização Tecnológica: Próteses em cinema, com Helena Batista, Sincolour, Lisboa;
2015 - Curso de Edição Criativa em Premiere, Restart, Lisboa;
2011 - Workshop de desenho “retrata o teu passado” com Erika Kobayashi, Porto Santo, organização da Bienal do Porto Santo;
2009 - Curso de Clown com Peter Ercolano, Melizia del Folie, Itri-Itália;
2008 - Projeto Avançado em Artes Visuais I e II, Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR);
2007 - Workshop Velas de Cera e Máscaras de Gesso, Ilha de Chios, Grécia, Associação ETNIA; Workshop de Cerâmica com Utta Minnich e Lisa Ruland, com o objetivo de criar um Mural para o Instituto Goethe de Lisboa;
2006 - Workshop de Performance com Desenho “Arte, Corpo e Movimento”, orientado pelo coreógrafo Stephan Jurgens, ESAD.CR;
2007 - Licenciatura em Artes Plásticas, Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR);
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
2024 – Direção de Arte no filme “Noctural Cheetah” de Ana Soares.
2020-2024 – Diretora da editora Multiple Skins Editions, através do heterónimo Emily Ham.
2024 – (15.05) MASTERCLASS O Corpo subjéctil e o Eu Desmultiplicado, Faculdade de Belas Artes do Porto, a convite de Rute Rosas e Pedro Arrifano.
2024 – (04.04) Participação na conferência An era of walls: art at the boundaries of the new enclosures, com a palestra: “WAR MACHINES: Contemporary Art as a frictional device for the Outsider’s integration”, department of Art History, University of Bristol, UK.
2023 – Co-Curadora da exposição LOST GIRLS com o coletivo artístico e feminista INFEMS, Galeria FLOWERS, Londres.
2021 - Lecionou a disciplina de "Desenho na Cidade", 3º ano do curso Arquitetura e Reabilitação, Faculdade de Arquitetura, Universidade de Lisboa.
2018 - Workshop "the moving north | a primavera vem do norte" para crianças, em colaboração com o coletivo "Humor Líquido" e a ACAVA, Londres.
2009 - Presidente e Diretora artística da Associação Africamor -Associação Recreativa e de inserção social, Lisboa.
2009 - Orientadora do Workshop "Sinergias sem Olhos" com crianças de etnia Cigana e Idosos com o apoio da Associação Africamor e Médicos do Mundo, Olaias.
2009 - Orientadora do Workshop "Toques Mentais" na Casa do Telhal, com o apoio da Bienal do Porto Santo e Associação Africamor.
Sobre o Curador
Manuel Furtado está a terminar o Doutoramento em História da Arte Contemporânea na NOVA FCSH (com bolsa FCT – IHA) que tem por título “O Oxímoro na Arte Contemporânea: um dispositivo para o sublime pós-moderno”, é Mestre em Belas-Artes (Central Saint Martins) e licenciado na mesma área pela Coventry University. Foi o diretor artístico da Galeria MUTE durante 5 anos e líder da equipa curatorial do FACTT (Festival de Arte e Ciência Transnacional e Transdisciplinar). Pertenceu ao corpo docente da Escola Arte Ilimitada de 2011 a 2017 e tem colaborado pontualmente com outras escolas de arte (nomeadamente A Base). Continua a desenvolver atividade curatorial, tendo também vindo a publicar artigos e textos que decorrem da sua investigação em periódicos, livros e catálogos. Atualmente colabora com a associação Mão Sim Mão, estando responsável pela sua componente conceptual e investigação, onde desenvolve atividade de escrita e pensamento sobre transdisciplinaridade. Nesse âmbito dá uma particular atenção às dinâmicas entre Arte, Ciência e Filosofia.