Vida e Obra de Ferreira de Castro

Retrato de Ferreira de Castro, da autoria da sua esposa, Elena Muriel, 1937
 José Maria Ferreira de Castro nasceu a 24 de Maio de 1898 na aldeia dos Salgueiros, freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis, filho mais velho de José Eustáquio Ferreira de Castro e de Maria Rosa Soares de Castro.
José Maria Ferreira de Castro nasceu a 24 de Maio de 1898 na aldeia dos Salgueiros, freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis, filho mais velho de José Eustáquio Ferreira de Castro e de Maria Rosa Soares de Castro.Casa de Salgueiros, onde nasceu Ferreira de Castro
 A 7 de Janeiro de 1911, Ferreira de Castro embarcou em Leixões a bordo do vapor "Jerôme", navio "negro e sujo" com destino a Belém do Pará. Nesse dia, contudo, Margarida não estava lá. "Tinha eu, então, 12 anos, 7 meses e 14 dias…", recordará mais tarde, num texto memorialístico.
A 7 de Janeiro de 1911, Ferreira de Castro embarcou em Leixões a bordo do vapor "Jerôme", navio "negro e sujo" com destino a Belém do Pará. Nesse dia, contudo, Margarida não estava lá. "Tinha eu, então, 12 anos, 7 meses e 14 dias…", recordará mais tarde, num texto memorialístico.Em Belém, grassava a crise da borracha. Castro passou pouco tempo em casa de um conterrâneo a quem havia sido recomendado, que – num episódio dickensiano – procurou livrar-se daquele encargo, arranjando-lhe trabalho num seringal inóspito. Viveu assim, entre 1911 e 1914 no seringal ironicamente chamado 'Paraíso', nas margens do rio Madeira, braço do Amazonas.
Embora trabalhasse como caixeiro num armazém, pois era alfabetizado, marcá-lo-ia fortemente a convivência com os seringueiros paraenses e cearenses, vítimas da adversidade do meio e da exploração dos coronéis proprietários das plantações. A par de pequenos textos destinados a jornais, ali redigiu o seu primeiro romance, Criminoso por Ambição, obra juvenil publicada a expensas próprias, já em Belém.
 Deixou o seringal em 28 de Outubro de 1914 e, na capital do Pará, passou por enormes dificuldades, colando cartazes, trabalhando como embarcadiço num navio de cabotagem que fazia a carreira do rio Oiapoque, entre Belém e Caena, aproveitando todos os tempos livres para se autoeducar na Biblioteca Pública de Belém, onde tomou contacto com as obras clássicas da literatura universal. Ainda em 1916, publicou a peça Alma Lusitana, iniciando-se então um período mais estável, mercê da colaboração periodística, em especial quando fundou, com outro emigrante, o semanário Portugal (1917), que granjeou um acolhimento favorável entre a colónia lusa da cidade. Aí publicou parte do romance Rugas Sociais, nunca editado em livro. Em 1919, resolveu regressar, confiando nas suas capacidades para encetar um novo percurso jornalístico e, principalmente, literário deste lado do Atlântico.
Deixou o seringal em 28 de Outubro de 1914 e, na capital do Pará, passou por enormes dificuldades, colando cartazes, trabalhando como embarcadiço num navio de cabotagem que fazia a carreira do rio Oiapoque, entre Belém e Caena, aproveitando todos os tempos livres para se autoeducar na Biblioteca Pública de Belém, onde tomou contacto com as obras clássicas da literatura universal. Ainda em 1916, publicou a peça Alma Lusitana, iniciando-se então um período mais estável, mercê da colaboração periodística, em especial quando fundou, com outro emigrante, o semanário Portugal (1917), que granjeou um acolhimento favorável entre a colónia lusa da cidade. Aí publicou parte do romance Rugas Sociais, nunca editado em livro. Em 1919, resolveu regressar, confiando nas suas capacidades para encetar um novo percurso jornalístico e, principalmente, literário deste lado do Atlântico.Ferreira de Castro em Belém do Pará, cerca de 1915
 Chegou a Lisboa em Setembro, a bordo do 'Desna', com 400 escudos no bolso e o propósito de trabalhar nas gazetas, sem qualquer recomendação ou conhecimento no meio. Os primeiros anos na capital foram muito difíceis. Trabalhou em vários jornais e revistas, fundou publicações efémeras, como O Luso e A Hora, escreveu, a um ritmo alucinante, crónicas, contos, reportagens, críticas, histórias infantis para inúmeros periódicos, às vezes mais de 100 por mês, "para não morrer de fome" – evocou muito depois.
Chegou a Lisboa em Setembro, a bordo do 'Desna', com 400 escudos no bolso e o propósito de trabalhar nas gazetas, sem qualquer recomendação ou conhecimento no meio. Os primeiros anos na capital foram muito difíceis. Trabalhou em vários jornais e revistas, fundou publicações efémeras, como O Luso e A Hora, escreveu, a um ritmo alucinante, crónicas, contos, reportagens, críticas, histórias infantis para inúmeros periódicos, às vezes mais de 100 por mês, "para não morrer de fome" – evocou muito depois.Em 1921 publicou, em edição de autor, Mas…, coletânea de ensaios e narrativas em que é patente a procura dum estilo original; porém, todos os livros desta fase, até O Voo nas Trevas (1927), serão por si considerados meras tentativas literárias e eliminadas da sua bibliografia. Enquanto jornalista, apesar de considerar esta atividade como mero recurso, pois o escopo era a literatura, foi paulatinamente firmando o seu nome em publicações de nomeada: A Batalha, ABC, Renovação, O Século, Civilização – revista de grande qualidade gráfica, que dirigiu.
Em 1926 será eleito presidente do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa, pouco antes do golpe militar do 28 de Maio, que instituirá o Estado Novo. A sua reação contra a Censura leva ao encerramento do sindicato no ano seguinte.
Ferreira de Castro, fotografia de San-Payo, s.d.
 1928 é o ano de Emigrantes, abrindo novos horizontes à literatura portuguesa. Castro assumiu-se como "biógrafo das personagens que não têm lugar no mundo", e Manuel da Bouça surge-nos como um arquétipo que se dilui na torrente migratória com destino às Américas.
1928 é o ano de Emigrantes, abrindo novos horizontes à literatura portuguesa. Castro assumiu-se como "biógrafo das personagens que não têm lugar no mundo", e Manuel da Bouça surge-nos como um arquétipo que se dilui na torrente migratória com destino às Américas.
Trata-se de um romance fundamental no percurso de Ferreira de Castro, iniciando uma nova fase da sua obra. Representa, também, na história da literatura, uma viragem dentro do romance social português, evoluindo do realismo naturalista ou regionalista para o que viria a ser designado por neo-realismo, assumido pela geração seguinte com contornos políticos e ideológicos mais rígidos e definidos.
Emigrantes, de Ferreira de Castro, Lisboa, Livraria Renascença, 1928. Capa: Stuart Carvalhais
A Selva, de Ferreira de Castro, Porto, Livraria Civilização, 1930. Capa: Bernardo Marques
 Ferreira de Castro foi, durante décadas, o escritor português mais traduzido e publicado no estrangeiro. Desde o longínquo El Éxito Fácil (Madrid, 1923) até aos dias de hoje, em que continua a ser editado em vários países, nomeadamente em França, pelas Éditions Grasset. Esta tradução japonesa de A Selva vem juntar-se a muitas outras de vários romances castrianos, sendo este aquele que maior número de versões conheceu.
Ferreira de Castro foi, durante décadas, o escritor português mais traduzido e publicado no estrangeiro. Desde o longínquo El Éxito Fácil (Madrid, 1923) até aos dias de hoje, em que continua a ser editado em vários países, nomeadamente em França, pelas Éditions Grasset. Esta tradução japonesa de A Selva vem juntar-se a muitas outras de vários romances castrianos, sendo este aquele que maior número de versões conheceu.Edição japonesa de A Selva, de Ferreira de Castro, Tóquio, Sayriusha C.º, 2001
 A morte da sua companheira, Diana de Lis, também escritora, nesse ano, seguida de uma septicemia e uma grave depressão que quase o levou ao suicídio, representaram um dos períodos mais negros da sua vida. Convalescente na Madeira, escreveu o romance Eternidade (1933), grito de revolta contra a fatalidade biológica do homem e, simultaneamente, abordagem à difícil situação social da ilha.
A morte da sua companheira, Diana de Lis, também escritora, nesse ano, seguida de uma septicemia e uma grave depressão que quase o levou ao suicídio, representaram um dos períodos mais negros da sua vida. Convalescente na Madeira, escreveu o romance Eternidade (1933), grito de revolta contra a fatalidade biológica do homem e, simultaneamente, abordagem à difícil situação social da ilha.Eternidade, de Ferreira de Castro, Lisboa, Guimarães Editores, 1933. Capa: Bernardo Marques
 Seguiu-se Terra Fria (1934) distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências. Nas terras do Barroso, Castro sentiu-se atraído pelas existências arcaicas daquela gente. Esse ano ficou também marcado pelo abandono de O Século e do jornalismo profissional, constatando ser incapaz de se adaptar aos espartilhos censórios, decidindo-se a regressar apenas quando a liberdade fosse restaurada.
Seguiu-se Terra Fria (1934) distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências. Nas terras do Barroso, Castro sentiu-se atraído pelas existências arcaicas daquela gente. Esse ano ficou também marcado pelo abandono de O Século e do jornalismo profissional, constatando ser incapaz de se adaptar aos espartilhos censórios, decidindo-se a regressar apenas quando a liberdade fosse restaurada.Terra Fria, Lisboa, Editorial «O Século», 1934. Capa: Jorge Barradas
 Esta nova etapa da sua vida não conheceu um início auspicioso. A peça que lhe fora pedida por Robles Monteiro para o Teatro Nacional, intitulada Sim, Uma Dúvida Basta, foi censurada, sendo publicada apenas em 1994; o romance O Intervalo quedou-se na gaveta até 1974; um outro, intitulado Classe Única, não passou dos capítulos iniciais. Castro enveredou, então, pelas narrativas de viagem. Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38) deveu-se à simpatia do escritor pelos "povos minúsculos, pelas repúblicas em miniatura, por todos os que vivem isolados no planeta".
Esta nova etapa da sua vida não conheceu um início auspicioso. A peça que lhe fora pedida por Robles Monteiro para o Teatro Nacional, intitulada Sim, Uma Dúvida Basta, foi censurada, sendo publicada apenas em 1994; o romance O Intervalo quedou-se na gaveta até 1974; um outro, intitulado Classe Única, não passou dos capítulos iniciais. Castro enveredou, então, pelas narrativas de viagem. Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38) deveu-se à simpatia do escritor pelos "povos minúsculos, pelas repúblicas em miniatura, por todos os que vivem isolados no planeta".
Pequenos Mundos e Velhas Civilizações, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1937-1938. Capa: Roberto Nobre
 Embora se recusasse a escrever na imprensa portuguesa, abafada pela Censura, colaborou com o diário A Noite, do Rio de Janeiro, ao serviço do qual fez a cobertura da ocupação e anexação pela Alemanha nazi do território dos Sudetas (Checoslováquia), em 1938. No ano seguinte, ao serviço do mesmo jornal e apoiado pela Empresa Nacional de Publicidade, editora que publicaria o livro que resultará da sua viagem planetária: A Volta ao Mundo, publicado entre 1940 e 1944.
Embora se recusasse a escrever na imprensa portuguesa, abafada pela Censura, colaborou com o diário A Noite, do Rio de Janeiro, ao serviço do qual fez a cobertura da ocupação e anexação pela Alemanha nazi do território dos Sudetas (Checoslováquia), em 1938. No ano seguinte, ao serviço do mesmo jornal e apoiado pela Empresa Nacional de Publicidade, editora que publicaria o livro que resultará da sua viagem planetária: A Volta ao Mundo, publicado entre 1940 e 1944.A Volta ao Mundo, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1940-1944. Capa: Roberto Nobre
 Recusando "a volta ao mundo coletiva" do superficial cruzeiro de luxo, e rejeitando sujeitar-se às imposições das tabelas das carreiras marítimas, Ferreira de Castro decidira traçar "o mais incómodo e longo itinerário que se pode fazer, mas também o mais fascinante e fecundo […], alternando os centros urbanos, onde rutila a civilização, com os fundões da terra, onde a vida dos homens se encontra ainda selvagem".
Recusando "a volta ao mundo coletiva" do superficial cruzeiro de luxo, e rejeitando sujeitar-se às imposições das tabelas das carreiras marítimas, Ferreira de Castro decidira traçar "o mais incómodo e longo itinerário que se pode fazer, mas também o mais fascinante e fecundo […], alternando os centros urbanos, onde rutila a civilização, com os fundões da terra, onde a vida dos homens se encontra ainda selvagem".Ferreira de Castro junto à Esfinge, no Egipto, 1935
 Ainda sob os efeitos da pressão censória, Ferreira de Castro escreveu um romance que considerou, injustamente, quase inócuo. Trata-se de A Tempestade (1940), trama urbano em torno do adultério, do preconceito e da condição da mulher. Numa entrevista ao Diário de Lisboa, em 1945, de grande repercussão nos meios literários e políticos, Castro referiu-se ao seu livro nestes termos: "”A Tempestade” dá bem a ideia da influência que a falta de liberdade de expressão exerce na literatura. Quem ler os meus outros romances mal me reconhecerá neste. Tudo quanto constitui a minha personalidade está, ali, forçado, ou melhor, desfigurado".
Ainda sob os efeitos da pressão censória, Ferreira de Castro escreveu um romance que considerou, injustamente, quase inócuo. Trata-se de A Tempestade (1940), trama urbano em torno do adultério, do preconceito e da condição da mulher. Numa entrevista ao Diário de Lisboa, em 1945, de grande repercussão nos meios literários e políticos, Castro referiu-se ao seu livro nestes termos: "”A Tempestade” dá bem a ideia da influência que a falta de liberdade de expressão exerce na literatura. Quem ler os meus outros romances mal me reconhecerá neste. Tudo quanto constitui a minha personalidade está, ali, forçado, ou melhor, desfigurado".
A Tempestade, de Ferreira de Castro, Lisboa, Guimarães Editores
 Acima de tudo escritor, a luta pela expressão foi sempre um dos seus cavalos de batalha: desde o protesto que assinou em 1926 contra a censura, na qualidade de dirigente sindical, até à militância no MUD (Movimento de Unidade Democrática), integrando a sua Comissão de Escritores, Jornalistas e Artistas, e ao apoio à candidatura de Norton de Matos à Presidência da República. Em 1947, publicou A Lã e a Neve, cuja ação se situa entre a comunidade pastoril da Serra da Estrela e os meios proletários têxteis da Covilhã – romance que, além de significar a grande explosão ficcional após catorze anos de desalento, tornou-o mestre de referência para as gerações mais novas. Com A Curva da Estrada (1950) e A Missão (1954), Castro regressou à escrita de contornos psicologísticos, sem que fossem arredadas as preocupações patentes nos livros anteriores.
Acima de tudo escritor, a luta pela expressão foi sempre um dos seus cavalos de batalha: desde o protesto que assinou em 1926 contra a censura, na qualidade de dirigente sindical, até à militância no MUD (Movimento de Unidade Democrática), integrando a sua Comissão de Escritores, Jornalistas e Artistas, e ao apoio à candidatura de Norton de Matos à Presidência da República. Em 1947, publicou A Lã e a Neve, cuja ação se situa entre a comunidade pastoril da Serra da Estrela e os meios proletários têxteis da Covilhã – romance que, além de significar a grande explosão ficcional após catorze anos de desalento, tornou-o mestre de referência para as gerações mais novas. Com A Curva da Estrada (1950) e A Missão (1954), Castro regressou à escrita de contornos psicologísticos, sem que fossem arredadas as preocupações patentes nos livros anteriores.Túmulo de Ferreira de Castro, Serra de Sintra
 Para a edição comemorativa do 25º aniversário de A Selva (1955), foi endereçado convite a Candido Portinari (1903-1962), afim de ilustrar o livro. A admiração do grande pintor brasileiro pela obra do nosso romancista evidencia-se, não apenas pelo seu magnífico trabalho, como pela circunstância de ter suspendido o trabalho que tinha em mãos: os painéis sobre A Guerra e a Paz no edifício da ONU, em Nova Iorque.
Para a edição comemorativa do 25º aniversário de A Selva (1955), foi endereçado convite a Candido Portinari (1903-1962), afim de ilustrar o livro. A admiração do grande pintor brasileiro pela obra do nosso romancista evidencia-se, não apenas pelo seu magnífico trabalho, como pela circunstância de ter suspendido o trabalho que tinha em mãos: os painéis sobre A Guerra e a Paz no edifício da ONU, em Nova Iorque.
A Selva, de Ferreira de Castro, ilustrada por Portinari
 A arte sempre exerceu um intenso fascínio em Ferreira de Castro. À caminhada do ser humano, nas suas preocupações estéticas, mentais e vitais consagrou as páginas de As Maravilhas Artísticas do Mundo ou A Prodigiosa Aventura do Homem através da Arte (1959-1963), obra a que dedicou uma década, premiada pela Academia das Belas-Artes de Paris.
A arte sempre exerceu um intenso fascínio em Ferreira de Castro. À caminhada do ser humano, nas suas preocupações estéticas, mentais e vitais consagrou as páginas de As Maravilhas Artísticas do Mundo ou A Prodigiosa Aventura do Homem através da Arte (1959-1963), obra a que dedicou uma década, premiada pela Academia das Belas-Artes de Paris.
As Maravilhas Artísticas do Mundo, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1959-1963
 Entre 1962 e 1964, presidiu à Sociedade Portuguesa de Escritores, por cuja criação pugnara com Aquilino Ribeiro, este sócio n.º 1, Castro o n.º 2. Após as comemorações do cinquentenário de vida literária, em que avultam edições ilustradas de Emigrantes e Terra Fria, respetivamente por Júlio Pomar e Bernardo Marques.
Entre 1962 e 1964, presidiu à Sociedade Portuguesa de Escritores, por cuja criação pugnara com Aquilino Ribeiro, este sócio n.º 1, Castro o n.º 2. Após as comemorações do cinquentenário de vida literária, em que avultam edições ilustradas de Emigrantes e Terra Fria, respetivamente por Júlio Pomar e Bernardo Marques.Emigrantes, de Ferreira de Castro, Ilustrações de Júlio Pomar, Edição Comemorativa dos Cinquenta Anos de Vida Literária de Ferreira de Castro (1916-1966)
O Instinto Supremo, de Ferreira de Castro, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1968. Capa: Artur Bual
 Ferreira de Castro foi, durante décadas o escritor português mais traduzido, escritor dum país periférico e isolado, sem influência nem projeção internacional – assim era o Portugal do século XX, que normalmente se destacava pelas más razões: pobreza, estado autoritário e policial, colonialismo. Ser publicado na maior parte das línguas cultas europeias, em grandes editoras como a Macmillan, a Viking, a Grasset, a Aguilar, entre outras, foi um feito assinalável, abrindo caminho para outros escritores portugueses.
Ferreira de Castro foi, durante décadas o escritor português mais traduzido, escritor dum país periférico e isolado, sem influência nem projeção internacional – assim era o Portugal do século XX, que normalmente se destacava pelas más razões: pobreza, estado autoritário e policial, colonialismo. Ser publicado na maior parte das línguas cultas europeias, em grandes editoras como a Macmillan, a Viking, a Grasset, a Aguilar, entre outras, foi um feito assinalável, abrindo caminho para outros escritores portugueses.
20. Reconhecimento internacional a que faltou o Prémio Nobel de Literatura, ao qual foi proposto em 1951 e em 1968, desta vez na companhia de Jorge Amado. Não obstante, ser-lhe-ia atribuído o Prémio Águia de Ouro de Festival do Livro de Nice, em 1970, por um júri muito relevante, na sua composição de escritores, presidido por Isaac Bashevis Singer, distinção à qual haviam sido proposto nomes de grande significado como Lawrence Durrell ou Konstantin Simonov.
Ferreira de Castro no seu gabinete de trabalho, 1953
 Falecido em 29 de Junho de 1974, Ferreira de Castro repousa na Serra de Sintra, sob um banco talhado na rocha, numa vereda que conduz ao Castelo dos Mouros.
Falecido em 29 de Junho de 1974, Ferreira de Castro repousa na Serra de Sintra, sob um banco talhado na rocha, numa vereda que conduz ao Castelo dos Mouros.
 Tendo escrito aqui parte da sua obra, hospedando-se em especial no Hotel Netto, o escritor sentia-se particularmente bem neste cenário verdejante, tanto mais que a Natureza vegetal é um tópico importante nos seus livros, no seu estilo literário e dir-se-ia que indissociável da sua própria essência de homem e artista. Num texto de 1964, Castro escrevia:
"As paisagens nativas, as suas irmãs minhotas e tantas outras que me têm feito sonhar ao longo do nosso planeta, prendem-me mais profundamente à vida do que as raízes prendem as árvores à terra. Toda a minha existência de homem e de escritor está vinculada a esta paixão. Foi em convívio com a Natureza que os sentimentos de amor se sublimaram sempre em mim, foi em contacto com ela que elaborei a maioria das páginas que tenho escrito. As minhas demoradas estadas nesse pequeno mundo de beleza insigne que é Sintra, com tantas veredas dum intimismo lírico, tantos rincões secretos onde a poesia habita e tanta espiritualidade pairante, como se tudo propiciasse, às horas vespertinas, uma perfeita e voluptuosa fusão dos corpos e das almas, devem-se à irresistível fascinação que em mim exercem as grandes e verdes paisagens."
 Ficar para toda a eternidade integrado de corpo e alma na Natureza que lhe inspirara tantas páginas, era uma ideia que acalentara desde cedo. Assim, em 1970, fez o único pedido às autoridades do seu país:
Ferreira de Castro, 1951







 A este êxito de público e crítica, sucede o maior de todos: A Selva (1930). Livro poderoso, em que a personagem principal é o "inferno verde", traduzido rapidamente para várias línguas, tornou Ferreira de Castro o escritor português além-fronteiras, nos decénios seguintes.
A este êxito de público e crítica, sucede o maior de todos: A Selva (1930). Livro poderoso, em que a personagem principal é o "inferno verde", traduzido rapidamente para várias línguas, tornou Ferreira de Castro o escritor português além-fronteiras, nos decénios seguintes.











 Publicou o último romance, O Instinto Supremo, em 1968, simultaneamente em Portugal e no Brasil.
Publicou o último romance, O Instinto Supremo, em 1968, simultaneamente em Portugal e no Brasil.









