Entrevista a Rogério Timóteo

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Rogério Timóteo nasceu em Anços, concelho de Sintra, em 1967. De 1985 a 1989 foi aluno do Mestre Anjos Teixeira.  A partir de 1989 desenvolve trabalho individual. Em 1991 frequenta o Curso “Novas Tecnologias em Mármore” em Vila Viçosa.

Conta já com 33 exposições individuais e mais de 200 exposições coletivas e de grupo.

Encontra-se representado em coleções particulares em Portugal, Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá, Escócia, Espanha, EUA, França, Holanda, Inglaterra, Irlanda, Luxemburgo, Polónia, Suíça e Uruguai.

Cresceu em Anços, uma aldeia com fortes ligações ao mármore.

De que forma esta vivência influenciou a sua carreira?

Não passei toda a minha infância em Anços. Vivi alguns anos em Paris onde os meus pais foram emigrantes, regressei com 9 anos. Embora fosse uma criança, creio que essa vivência me proporcionou uma percepção de realidades diferentes. Em Anços, devido às ligações familiares com a extracção e transformação do mármore permitiu-me um sólido conhecimento da matéria e das técnicas envolvidas na sua transformação.

Podemos falar numa “fonte” de inspiração para o seu trabalho?

A “fonte” de inspiração do meu trabalho sempre foi o corpo humano.Podemos falar numa “fonte” de inspiração para o seu trabalho?

É uma fonte inesgotável na suas expressões corporais, conseguindo traduzir em mármore ou em bronze, estados sensitivos que vai desde a paixão até à melancolia, passando por muitas outras emoções que existem nas atitudes corporais.

Das inúmeras obras que criou, há alguma que lhe seja especial?

Terei, com certeza, algumas favoritas, não sabendo explicar o porquê, no,entanto privilegio mais a coerência e a qualidade das obras ao longo de todo um percurso de vida.

Atualmente tem patente no MU.SA – Museu das Artes de Sintra, a exposição “Origens”, pode falar-nos um pouco deste projecto?

Como indica o título da exposição “Origens” é para mim como voltar a casa e desse modo mostrar à minha gente o que só tiveram possibilidade de ver à distância, pois há alguns anos que não realizo uma exposição no concelho de Sintra.

As esculturas para este projecto foram cuidadosamente escolhidas para, de alguma forma, permitir uma visão transversal do que tenho vindo a criar nestes últimos anos. Seleccionei esculturas de várias épocas e de vários materiais, privilegiando os mármores no interior do museu e as obras em resina de escala monumental no exterior do edifício. Os desenhos foram uma surpresa para muita pessoas que seguem o meu trabalho, pois é um aspecto da minha obra que exponho raramente.

Como foi a experiência de ser aluno durante cinco anos de Mestre Pedro Anjos Teixeira?

É difícil encontrar palavras para exprimir o que o Mestre Pedro Anjos Teixeira significa enquanto professor e amigo. Se não nos tivéssemos cruzado possivelmente não seria escultor, mas ainda assim se fosse escultor, de certeza, que não teria as bases técnicas que me possibilita a execução de toda a minha obra.

Para além de professor, tive a honra de o ter como grande amigo, apesar da nossa diferença de idades. Estou eternamente grato pela sua enorme generosidade de me aceitar enquanto aluno, transmitindo-me o seu imenso conhecimento nas mais variadas tecnologias da escultura.

De que forma enquadra e/ou descreve a sua obra?

Desenvolvo uma linguagem tendo como elemento principal o corpo humano. Interessa-me uma representação corporal que seja intemporal na sua mensagem, mas que possa ser reconhecível ou sentida nos olhos do observador sem necessidade de informação adicional.

Sendo uma figuração contemporânea , insere-se num contexto muito mais vasto seguido por muitos escultores à escala global, ainda que em Portugal sejam raros os escultores desta corrente artística.

Quais os momentos mais marcantes da sua carreira?

Tive alguns momentos que se revelaram importantes no contexto do percurso, nomeadamente  uma exposição individual em Nova Iorque e uma exposição que foi realizada nas Ruinas do Carmo em Lisboa e que pela sua especificidade marcou uma mudança do meu percurso. Cada vez que coloco uma obra pública também é sempre um momento marcante.

O que podemos esperar do escultor Rogério Timóteo no futuro?

Neste momento estou a realizar três obras públicas para o norte de Portugal. Ainda este ano, irei expor o meu trabalho em Inglaterra (Londres), Itália e Espanha e claro continuarei no barro, no mármore e no bronze, sempre com muita paixão, a esculpir corpos vibrantes num elogio à vida.

  

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João Taurino
João Taurino